A poucos dias de acabar o IVA Zero ficam na prateleira os bens essenciais antes da subida dos preços. Há algum tempo que a despensa de muitos portugueses não tem reservas. Compra-se conforme se precisa. Há que “fazer de hoje para dar para amanhã” e está fora de questão aproveitar os últimos dias desta medida.
“Não há volta a dar mesmo para uma cesta básica, porque o dinheiro não chega”, confessa André Oliveira, 39 anos. Seja à porta de hiper ou minimercados de Vila Nova de Gaia, as queixas são as mesmas. Não há dinheiro para aproveitar os últimos dias do IVA Zero e o poder económico dos portugueses nem está dentro do stock.
Os consumidores reconhecem que os preços que ainda estão em vigor agora ficam “mais em conta”, mas preferem as campanhas e promoções dos supermercados.
A carteira não deixa precaver e acaba-se por racionar as compras de produtos alimentares. “Sempre é melhor zero do que com o IVA Zero, mas a gente sente pouco”, diz Infância Teixeira, 70 anos.
Deixa-se ficar lá na caixa, porque “não se pode facilitar”. “Antigamente, ainda dava para comprar mais uma ou duas garrafinhas, ou mais um ou dois quilos de arroz”, recorda Anabela Lima, 57 anos. Lamentam e reclamam os preços elevados e afirmam não ter sentido o efeito da medida.
“É mais bocado, menos bocado”, afirma Fernando Fernandes, 67 anos. Tanto faz. “E nem vale a pena açambarcar, porque há certas coisas que não ficam tão boas congeladas”, partilha Rosa Fonseca, 61 anos.
Para os portugueses, não vale a pena inventar. É clara a insatisfação dos consumidores e, já no início do ano, são também os comerciantes e grandes superfícies que vão renovar os inventários de artigos abrangidos com IVA Zero.
“É uma trabalheira”, diz António Gonçalves, 63 anos. O gerente da mercearia O Celeiro de Gaia vai “resolver o assunto lá para dia 1 ou 2” nas etiquetas do espaço e nos botõezinhos assinalados a vermelho no computador.
António também se precaveu e cada produto com IVA Zero corresponde a um retângulo vermelho para ser mais fácil na hora de atualizar os preços.
“E eu vou avisando: 'atenção que, a partir de dia 4 de janeiro, o IVA passa para a taxa normal'”. O gerente bem que vai deixando o alerta, no meio de brincadeiras, mas os clientes não alteram as compras habituais.
O caso não é único desta mercearia e repete-se em outras tantas do município. “O dinheiro não chega para armazenar”, sublinha o diretor da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Vila Nova de Gaia, Francisco Oliveira.
Os comerciantes receberam “muito bem”. “É uma pena que acabe dava sempre para comprar algo mais”.
“Antes, tinham na sua dispensa duas garrafas de azeite, três de óleo, não sei quantos pacotes de açúcar. Hoje, nem dá armazenar os produtos em casa”, reconhece. “Se tiverem uma de reserva, já é muito”.