As forças talibãs iniciaram o cerco à cidade de Mazar-i-Sharif, a maior cidade do Norte do Afeganistão, provocando a fuga da população civil, que teme o avanço dos "insurgentes".
Caso Mazar-i-Sharif venha a ser tomada, o Governo deixa de ter controlo no Norte do país, onde tradicionalmente se verificava oposição contra os talibãs.
A antiga Aliança do Norte encontrou refúgio no Norte do Afeganistão resistindo ao poder dos talibãs entre 1996 e 2001.
Nesta altura, os talibãs que lançaram em maio uma ofensiva de grande escala, controlam efetivamente cinco das nove capitais do norte do Afeganistão.
Por outro lado, dominam completamente seis capitais de um total de 34 a nível nacional e registam-se combates em quatro outras cidades.
Após a conquista de Kunduz, a grande cidade do Nordeste e das cidades de Taloqan e de Sar-e-Pul, os talibãs passaram a dominar Aibak, a capital da província de Samangan.
Durante a última madrugada, as forças talibãs atacaram a periferia de Mazar-i-Sharif, Pul-e-khromi e Faizabad, três capitais provinciais do Norte.
De acordo com o Ministério da Defesa afegão, nas últimas 24 horas também se registaram fortes combates nas províncias de Nangarhar, Kunar, Logar, Paktia, no leste; em Maidan Wardak, centro, e nas zonas meridionais de Kandahar e Helmand.
Pelo menos 361 combatentes talibãs morreram e 125 ficaram feridos em combates com as forças afegãs, segundo o balanço diário do Ministério da Defesa de Cabul, que não forneceu números sobre eventuais baixas das forças governamentais.
Zabihullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, disse que os combatentes conseguiram vencer ou obrigar à rendição tropas do Governo tendo divulgado imagens dos soldados capturados e de ataques no terreno.
A população está em fuga
Os confrontos estão a provocar o êxodo de civis para os países vizinhos ou para outras cidades no interior do país.
O vice-presidente afegão, Amrullah Saleh, apelou aos organismos humanitários internacionais apoio às famílias que abandonam os locais de residência e que estão a chegar em grande número a Cabul onde "vivem nas ruas".
"Até ao momento, recebemos 17 mil pedidos de famílias deslocadas, um total de 120 mil pessoas, em Cabul, provenientes das províncias do norte e nordeste devido aos contínuos combates", disse à agência Efe Reza Baher, porta-voz do Ministério dos Refugiados e da Repatriação do governo afegão.
Destino “nas mãos” dos afegãos
As Nações Unidas já demonstraram preocupação pela "rápida escalada do conflito" durante a última semana e que provocou uma vaga de milhares de deslocados internos e de refugiados que fogem para território iraniano.
Enquanto se travam combates no Norte e nas cidades de Kandahar e Lashkar Gah, no Sul, prevê-se a realização de uma ronda negocial entre os talibãs e representantes do Governo, nesta terça-feira, no Qatar.
O "processo de paz" começou em setembro do ano passado e determinou a retirada total das forças norte-americanas (e da Aliança Atlântica, que integrava militares portugueses) até ao dia 31 de agosto.
Apesar do atual impasse das negociações, os Estados Unidos, que promoveram as conversações, devem enviar a Doha o emissário Zalmay Khalilzad para "exortar os talibãs a cessar a ofensiva militar e negociar um acordo político no sentido da manutenção da estabilidade e do desenvolvimento" do Afeganistão.
A administração norte-americana não pretende mudar de rumo e, apesar de manter o apoio ao Governo de Cabul, o porta-voz do Pentágono disse que o destino está nas mãos dos afegãos.
"Eles é que têm de defender o país deles. O combate é deles", disse o porta-voz, John Kirby na segunda-feira.
Os Estados Unidos e a Aliança Atlântica invadiram o Afeganistão em 2001 na sequência do ataque da Al-Qaeda contra as Torres Gémeas, em Nova Iorque.