Carlos Costa recordou o telefonema de António Costa em que acusa o primeiro-ministro de o pressionar para não retirar Isabel dos Santos do BIC como “muito curto” e “irritado”, referindo que o mesmo ficou na sua memória porque “raramente” na sua vida recebeu um telefonema “tão agreste”.
Em entrevista à CNN Portugal, o ex-governador do Banco de Portugal reafirmou que Costa lhe disse que “não admitia” que se “tratasse mal” a filha de um país amigo de Portugal, garantindo que irá responder pelo que afirmou "onde quer que seja".
"Mantenho o que disse e responderei onde quer que seja por aquilo que disse", garantiu, dizendo-se “muito surpreendido” pela polémica causada pela publicação do livro “O Governador”, referindo que “não era necessário era disparar” sobre si por relatar um telefonema que existiu.
Carlos Costa reiterou que António Costa o contactou através de um telefonema, após uma reunião que o antigo governador teve com Isabel dos Santos, com o sócio da empresária angolana Fernando Teles e com o diretor do departamento de supervisão Carlos Albuquerque.
"O telefonema foi muito curto, muito agreste, mas ficou muito marcado porque raramente na minha vida recebi um telefonema tão agreste", afirmou o ex-governador.
Questionado sobre a carta de António Costa enviada para Jean-Claude Juncker, na altura presidente da Comissão Europeia, e para Mario Draghi, então presidente do Banco Central Europeu (BCE), em dezembro de 2015, Carlos Costa afirmou: "Seria bom que tivéssemos falado, que tivéssemos ponderado os termos da carta, sei que a carta fazia parte de uma outra luta política sobre a saída "limpa" ou não [do programa de ajuda externa]".
"O relacionamento entre as autoridades de supervisão europeias e o sistema bancário naturalmente ficou condicionado por esta ideia", disse, acrescentando que a missiva "causou surpresa [entre as autoridades europeias] e surpresa é um termo diplomático para algo de mais importante".
Quando questionado sobre as declarações de alguns dos responsáveis dos bancos portugueses esta semana de que não tencionam ler o livro "O Governador", que resulta de um conjunto de entrevistas do jornalista do Observador Luís Rosa a Carlos Costa, e que tem provocado polémica, o antigo governador foi perentório: "Eu julgo que seria muito interessante que os banqueiros lessem o capítulo relativo à entrada da "troika" e ao programa de estabilização do sistema financeiro. O Banco de Portugal evitou uma nacionalização do sistema bancário se tivéssemos seguido o modelo que estava a ser preconizado", afirmou.
"Tenho a certeza de que os banqueiros deviam ler pelo menos esse capítulo para perceberem que estiveram à beira do precipício", acrescentou.
Carlos Costa disse ainda "ter pena" pela ausência de figuras socialistas com as quais contava na apresentação do livro "O Governador" -- no qual estiveram nomes da direita como Cavaco Silva e Ramalho Eanes, o antigo primeiro-ministro Passos Coelho e vários seus ex-ministros, assim como o presidente do PSD, Luís Montenegro, entre outros --, considerando que "desequilibrou" a audiência.
António Costa anunciou que irá processar o antigo governador, a quem acusou de ter escrito um livro com mentiras e deturpações a seu respeito e de ter montado uma operação política de ataque ao seu caráter, depois de este ter reafirmado que houve "tentativa de intromissão do poder político junto do Banco de Portugal".