O secretário-geral do PS defendeu esta terça-feira, na Alemanha, que a social-democracia deve ser "mais combativa" e responder com "confiança" ao crescente populismo, que se alimenta do medo e da insegurança provocada pelos acontecimentos dos últimos anos.
"Aquilo que alimenta o populismo é o medo, aquilo que nós temos de fornecer é confiança", defendeu António Costa, que intervinha num painel de discussão sobre "como proteger uma Europa democrática" no quadro das eleições europeias de junho próximo, realizado na Fundação Frederich Ebert, em Bona.
O líder do PS, que se deslocou à Alemanha entre segunda-feira e hoje para participar em comemorações do 50º aniversário da fundação do partido, na localidade de Bad Münstereifel, juntamente com o seu partido "irmão" alemão, os sociais-democratas do SPD (família socialista), sublinhou hoje em Bona a sua convicção de que há "todas as razões para ter uma social-democracia mais combativa".
"E mais: temos a necessidade de ter uma social-democracia mais combativa. Nós não combatemos a extrema-direita e o populismo só com discursos. Nós temos de começar por compreender o que é o sentimento das pessoas e por que razão há este crescimento do populismo", declarou.
Apontando que se viveram nos últimos tempos "anos muitos especiais", o secretário-geral do PS afirmou que as pessoas convivem atualmente com um "cocktail" onde "há um mal-estar" que resulta do regresso da guerra à Europa, face à invasão da Ucrânia pela Rússia, numa altura em que se pensava que se podia finalmente respirar após "dois anos horríveis de pandemia" da covid-19, e que teve também como efeito "o preço da energia disparar, a inflação a espalhar-se e o BCE a subir a taxa de juro".
"Não é possível termos uma sociedade que não esteja receosa, que não esteja ansiosa, que não esteja insegura quanto ao futuro. E é normal que assim seja. E a obrigação dos políticos não é dizer às pessoas que as pessoas estão erradas, é dar razões às pessoas para as pessoas voltarem a ter confiança", receitou o líder do PS.
António Costa argumentou que essa é também a forma de responder às angústias das pessoas relativamente aos efeitos que a transição digital e energética vai causar nas suas vidas, com os políticos a assumirem que efetivamente vai haver repercussões -- como a perda de empregos e mudança de hábitos -, mas explicando a razão por que são tão necessárias essas mudanças, garantindo "investimentos que criem mais e melhores empregos" e que "ninguém fique para trás".
"Temos de fazer essa mudança, e qual a resposta que a social-democracia pode dar? É a resposta que sempre deu: é sermos os defensores do Estado social, que é a rede de segurança perante as vicissitudes da vida", disse, apontando a título de exemplo o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social.
António Costa alertou ainda que não se pode esquecer, como muitas vezes acontece, "aquilo que levou a nascer a social-democracia, que é o combate às desigualdades sociais".
Sustentando que é "importante combater todas as formas de desigualdade", como as desigualdades de género ou em função da orientação sexual, Costa sublinhou que é preciso ter sempre presente "a maior desigualdade de todas, a mais transversal, que continua a ser a desigualdade social".
"E a nossa gente, os nossos eleitores, os eleitores da social-democracia, não se sentiram muitas vezes representados no nosso discurso. Acharam que nós tínhamos deixado de estar preocupados com as desigualdades sociais, porque estávamos muito preocupados com outro tipo de desigualdades", observou.
António Costa defendeu que os partidos progressistas têm precisamente é de continuar a dirigir-se a "esse povo que confiou na social-democracia" e que sabe que, com a social-democracia, hoje há escola pública, Serviço Nacional de Saúde, legislação laboral, vencimentos dignos. "E temos de nos dirigir de forma credível e efetiva, para que as pessoas sintam efetivamente que podem melhorar".
"Connosco, aumentámos 72% o salário mínimo, e o salário médio cresceu 40%. As pessoas há uma coisa que sabem: hoje vivem melhor do que viviam em 2015. Que para o ano querem viver melhor do que este ano? Ai claro que querem. E o que nós temos de trabalhar é que para o ano possam viver melhor do que vivem este ano", disse.
António Costa, que a 07 de novembro se demitiu do cargo de primeiro-ministro e vai também deixar a liderança do PS, concluiu na Fundação Frederich Ebert a sua visita de dois dias à Alemanha, à frente de uma comitiva do partido, naquela que foi uma das suas últimas ações enquanto secretário-geral, dado o seu sucessor ser escolhido em eleições diretas que terão lugar já a 15 e 16 de dezembro, a sensivelmente três meses das eleições legislativas antecipadas, agendadas para 10 de março.