Vinte e quatro de Novembro, 7h00, 1º C, Avenida de Tervuren, Bruxelas. A cidade desperta para mais um dia cinzento e de muito frio, como muitos outros na Bélgica. Nesta artéria, uma das principais vias da cidade e de acesso ao centro, o trânsito não é tão intenso como habitual.
A “normalidade” é pura aparência. A capital belga prepara-se para enfrentar o quarto dia em alerta terrorista máximo, o nível 4. O resto do país está no nível 3. À medida que nos aproximamos do centro de Bruxelas, confirma-se o estado de sítio.
As estações de metro da capital estão todas fechadas. Ainda assim, há bruxelenses que vão trabalhar. Desafiam o medo e o frio, a pé ou de bicicleta. Outros vivem fora e vêm de carro –mas há muito menos do que é costume. Os eléctricos e autocarros que funcionam estão semivazios. Na hora de ponta de um dia normal, vão cheios.
A Place Royale, uma das mais visitadas pelos turistas, está deserta. De repente, passa um carro da polícia a alta velocidade. As sirenes da polícia tornaram-se constantes nos últimos dias. Noutra rua mais à frente, junto ao Parque Real, ouve-se uma coluna de veículos do exército: transporta dezenas de militares. Sente-se a tensão no ar.
As autoridades belgas consideram que o risco na capital é “sério e iminente”. Receiam ataques idênticos aos de Paris, com vários terroristas em diferentes locais. Até porque um dos principais suspeitos dos atentados na capital francesa continua em fuga. Desde sábado que as autoridades aconselham a população de Bruxelas a evitar sítios com muita gente.
De qualquer forma, o metro, os infantários, as escolas e as universidades, os museus, as bibliotecas e os centros comerciais continuam fechados. Os principais espectáculos foram de novo adiados. Muitas lojas do centro não abriram.
No coração da cidade, no bairro da Grand Place, as ruas estão semidesertas, há poucos turistas. Na principal praça da cidade, ali mesmo no meio, fica o café-restaurante Casa Manuel. A meio da manhã, está vazio. Num dia normal já devia ter servido muitas mesas. O negócio? “Está mau”, diz o gerente Fernando Rodrigues. “Temos muito medo”, confessa, até porque na noite de domingo para segunda, a escassas dezenas de metros do restaurante, a polícia fez várias operações de busca tentando localizar suspeitos de terrorismo.
A cidade está a ser patrulhada de forma constante por equipas militares e da polícia. Por todo o lado, há patrulhas. Blindados, furgonetas ou camiões do exército e das forças de segurança estão estacionados em sítios estratégicos. Como em frente à Estação Central de comboios e de metro. Por aqui, as pessoas passam apressadas, olham com desconfiança, os rostos estão fechados. Aproximam-se mais dois militares, vigiando tudo e cada pessoa que passa.
Ali mesmo ao lado fica a Maison de la Bande Dessiné, uma das livrarias emblemáticas da 9ª arte em Bruxelas. O gerente está desesperado com a situação de alerta máximo. "Isto é muito muito mau para o comércio. Como pode ver, não há ninguém. Desde há três dias. Estamos próximos do Natal, que é um bom período, estamos cada vez mais próximos, e temos medo", afirma.
Esta quarta-feira, o metro e as escolas deverão abrir, apesar de a cidade manter o nível de alerta máximo. As estações e as escolas vão receber segurança reforçada. Várias centenas de agentes suplementares. A capital da Bélgica e da Europa está suspensa, com medo. Mas tenta retomar a normalidade. A possível.