Pela primeira vez, um grupo de cientistas norte-americanos do Laboratório Lawrence Livermore, na Califórnia, conseguiu produzir mais energia do que a que foi consumida numa reação de fusão nuclear.
Na prática, este avanço científico poderá contribuir para a geração comercial de eletricidade limpa, barata e quase ilimitada nas próximas décadas, ao mesmo tempo que poderá ser um passo decisivo na contenção das alterações climáticas.
Mas, primeiro, é preciso passar a etapa do laboratório.
"Com esforço e investimento concentrados, algumas décadas de pesquisa sobre as tecnologias subjacentes podem colocar-nos numa situação em que poderemos construir uma central de produção de energia", referiu esta terça-feira Kimberly Budil, diretora do laboratório Lawrence Livermore.
Há cerca de 100 anos que é do conhecimento da comunidade científica que o Sol é alimentado por um processo de fusão, processo esse que os cientistas querem agora replicar na Terra, após décadas de investigação.
A reação produzida esta terça-feira foi de 2,5 megajoules de energia face aos 2,1 megajoules usados para alimentar os 'lasers' que serviram para bombardear isótopos de hidrogénio mantidos num estado de plasma sobreaquecido com o intuito de fundi-los em hélio, libertando um neutrão e energia limpa (livre de carbono).
Do lado da indústria de produção elétrica, este passo foi saudado com moderação. O setor sublinha que, no quadro da transição energética, esta técnica de fusão não deve diminuir os esforços na construção de outras alternativas, como energia solar e eólica, armazenamento em bateria e fissão nuclear.
Em fevereiro, investigadores europeus, incluindo portugueses, anunciaram que tinham atingido de forma sustentada um recorde de energia de fusão num teste que visava preparar a operacionalização do maior reator de fusão nuclear experimental do mundo, em construção em França.
No teste, feito em finais do ano passado e que durou cinco segundos, foi obtido um valor recorde de 59 megajoules de energia de fusão sustentada no dispositivo de fusão Joint European Torus (JET), o maior do género no mundo, a funcionar no Reino Unido.
O processo de fusão, o oposto da fissão de átomos pesados (de urânio) em que assenta a energia nuclear atual, consiste em juntar átomos de elementos leves, como o hidrogénio, a altas temperaturas, formando hélio e libertando uma enorme quantidade de energia na forma de calor.
A tecnologia de fissão nuclear, que gera resíduos altamente radioativos, apenas produz 10% da energia mundial, muito menos do que o carvão e o gás (combustíveis fósseis com forte impacto no ambiente).
Os Estados Unidos são um dos parceiros, a par da União Europeia, da China ou do Japão, do reator de fusão nuclear experimental em construção em França, que será a "antecâmara" da futura central energética europeia de demonstração de fusão, em estudo e com a qual se pretende testar a produção de eletricidade de uma forma limpa e segura.