A Associação Portuguesa de Direito de Insolvência e Recuperação (APDIR) assegura que o atual cenário não é animador. Para o presidente da direção da APDIR, Paulo Valério o facto de haver mais particulares a entrar em insolvência não significa que as empresas não se debatam com dificuldades.
O advogado lembra que as medidas de apoio do Governo para combater a pandemia ou a inflação permitiram adiar, de alguma forma, os problemas das empresas e que, quando acabarem, os efeitos poderão abranger a todos.
“As empresas estão anormalmente a recorrer menos à insolvência porque estiveram, de certa forma, anestesiadas pelas medidas de mitigação do impacto da pandemia e da guerra. Há muita formas de olharmos para isto”, reconhece Paulo Valério que faz uma leitura pouco otimista do futuro próximo.
“Diria que o cenário que temos pela frente não é animador. E até este efeito de anestesia que se fez sentir em relação às empresas acabará por cessar e haverá novo impacto nas famílias que estão ao serviço das empresas”, antevê.
O presidente da APDIR defende, por isso, que o Governo deve “repensar as prioridades no apoio às famílias e às empresas” e, sobretudo, acrescenta, dar uma “atenção especial a este tema do sobre- endividamento”.
É fundamental que as pessoas possam “melhorar a sua gestão financeira”, mas, também, “antecipar problemas e recorrer, se for o caso, a instrumentos de pré -insolvência para que possam regularizar a sua situação financeira”, defende.
Mais de 80% das falências registadas até setembro de 2022 são de particulares. Os dados são revelados por um estudo da Universidade Nova de Lisboa e do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) que dá conta que, nos primeiros nove meses do ano passado, foram declaradas mais de 5 mil e 161 insolvências de famílias.