Casos de demência aumentam em Trás-os-Montes
30-01-2019 - 10:36
 • Olímpia Mairos

Projeto “inovador” no país de Apoio Domiciliário à Demência, da responsabilidade da Misericórdia de Mogadouro, acompanha 60 doentes portadores de demência, mas tem muitos mais referenciados.

A Santa Casa da Misericórdia de Mogadouro está a desenvolver um projeto, considerado inovador no país, de apoio domiciliário à demência.

“Trata-se de um projeto multidisciplinar que envolve quatro tipos de profissionais ligados à saúde - neurologista, psicóloga clínica, enfermeiro e um animador -, que, em conjunto, executam estratégias, tendo em vista melhorar a qualidade de vida das pessoas portadoras de demência e tê-las controladas do ponto de vista clínico”, explica o provedor, João Henriques.

O projeto arrancou há pouco mais de um ano para acompanhar, numa primeira fase, 30 utentes do concelho de Mogadouro. A verdade é que já estão a ser tratados quase 60 doentes portadores de demência e há mais 91 pessoas referenciadas com a doença.

“Um dos maiores desafios é cuidar deste tipo de doentes quando a patologia se encontra em fase já mais avançada. Esta situação coloca à prova os conhecimentos e os cuidados que têm os cuidadores com este tipo de doentes a seu cargo”, explica a neurologista Purificação Ortiz.

Segundo aespecialista, os casos de demência vão crescendo, com o aumento da esperança média de vida do ser humano.

No concelho de Mogadouro, sempre que há suspeitas da existência de sintomas da doença, como a perda de memória, desorientação ou confusão com as coisas simples do dia, as pessoas são encaminhadas para o projeto de apoio domiciliário à demência.

A psicóloga clínica Tânia Silva nota que com o aparecimento da equipa e com as ações de sensibilização que têm sido feitas em todo o concelho, as pessoas estão mais atentas e despertas para os sintomas da doença.

“As pessoas, como estão mais informadas, têm a tendência em nos informar com mais antecedência ou a falar do assunto com os médicos de família”, observa a psicóloga, sublinhando que “estas atitudes fazem com que os cuidadores tenham acesso mais rápido aos cuidados especializados”.

A equipa multidisciplinar do projeto investe também em ações de sensibilização em diversas localidades e têm constatado que “com o passar dos meses” se percebe “uma população muito isolada, não só pelas distâncias, mas igualmente por estarem sós”.

Não é um serviço de urgência, mas responde a situações de emergência

Com a presença no terreno desta equipa multidisciplinar, a psicóloga Tânia Silva garante, no enanto, que os idosos não estão isolados, havendo uma sensação de segurança por parte desta faixa etária.

"Não somos um serviço de urgência. Porém, somos muitas vezes solicitados para atender a situações de crise provocadas pela demência”, observa a psicóloga clínica.

O Projeto de Apoio Domiciliário à Demência (PADD) envolve as cerca de seis dezenas de utentes que são apoiados por uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde e que vão desde a neurologia, passado pela psicologia clínica ou a enfermagem, entre outros.

O provedor da Misericórdia de Mogadouro, João Henriques, considera que o projeto desenvolvido pela instituição “tem a grande finalidade em atrasar o avançar da doença, através de um diagnóstico precoce que permita uma atuação atempada, diminuindo a evolução da doença, permitindo uma melhoria na qualidade de vida aos doentes e dos seus cuidadores adiantado a sua institucionalização”.

O responsável explica ainda que o número de quilómetros percorridos pela equipa do PADD, que percorre um concelho com 756 quilómetros quadrados e com uma população bastante envelhecida, se traduz numa poupança de recursos, uma vez que os doentes não tem de se deslocar aos hospitais centrais ou regionais para obter ajuda especializada nesta doença.

O Apoio Domiciliário à Demência, em Mogadouro, tem mais um ano pela frente, e conta com cerca de 140 mil euros provenientes do Programa Operacional de Inclusão Social e mais “60 mil euros de um investidor social que é o município de Mogadouro”.

A demência é caracterizada por uma perda progressiva e irreversível das funções intelectuais, como alteração de memória, raciocínio e linguagem e perda da capacidade de realizar movimentos e de reconhecer ou identificar objetos. Segundo os especialistas, a doença ocorre com maior frequência a partir dos 65 anos de idade e é uma das principais causas de incapacidade em idosos.