As guerras de Erdogan
02-11-2020 - 06:35

O presidente turco está envolvido em inúmeros conflitos, incluindo com outros países membros da NATO, como a Grécia e a França. Mas também há pequenos sinais de pacificação.

Erdogan, presidente da Turquia, está envolvido em inúmeros conflitos. Internamente, persegue a parte minoritária da população do seu país que é curda e que gostaria de ser independente. Existe terrorismo curdo na Turquia, mas a maioria dos curdos não é terrorista. Erdogan exerce também uma forte repressão sobre a população turca não curda. É o país do mundo com mais jornalistas na prisão.

Tendo-se esfumado a possibilidade de a Turquia vir a entrar na UE, Erdogan virou-se contra os europeus e procura agora mobilizar os muçulmanos sunitas contra a França, por causa das caricaturas de Maomé. Envolveu-se na guerra entre a Arménia, de maioria cristã, e o Azerbeijão, de população etnicamente próxima da turca e de religião maioritariamente muçulmana. Esta guerra é mais um episódio sangrento de uma hostilidade antiga e que conta com vários massacres e genocídios na sua história. O curioso é que, enquanto Erdogan apoia o Azerbeijão, a Rússia ajuda a Arménia no conflito em torno de Nagorno-Karabakh.

Algo semelhante acontece na Líbia, onde a fação apoiada por Putin combate a fação que Erdogan apoia. Ou na Síria, cujo presidente Bashar al Assad tem a cobertura militar russa e a Turquia apoia os rebeldes (exceto os rebeldes curdos, que Erdogan detesta e combate).

A Turquia tem forças armadas poderosas, as mais fortes da NATO depois das americanas. O que não impede Erdogan de atacar zonas marítimas da Grécia, país também membro da NATO, onde se presume existir petróleo e gás natural. E Erdogan disse que Macron, presidente da França (outro país da NATO), não devia estar bom da cabeça ao defender a liberdade de expressão a propósito das caricaturas de Maomé.

São demasiadas frentes de conflitos. Talvez reconhecendo isso, Erdogan enviou condolências ao presidente francês por causa no atentado de um islâmico radical que matou três pessoas numa igreja em Nice. E Macron deu, depois, uma entrevista à televisão Al-Jazira (uma televisão sediada no Qatar e com muita audiência no mundo árabe), dizendo compreender as furiosas reações muçulmanas à exibição pública de caricaturas de Maomé, mas que a França é um estado laico que preza a liberdade de expressão e condena a violência.

Por outro lado, o governo da Grécia ofereceu imediata ajuda à Turquia nas tentativas de salvamento de vítimas do terramoto em Esmirna, que provocou dezenas de mortos. A Grécia só há dois séculos se tornou independente da colonização otomana. Por isso, a relação entre turcos (descendentes dos otomanos) e gregos sempre foi complicada, o que valoriza o gesto do primeiro-ministro da Grécia. Também a França ofereceu ajuda à Turquia na sequência do terramoto no mar Egeu, junto a Esmirna.

Estes são pequenos sinais de pacificação. Pelo menos, vão no sentido do corajoso apelo do Papa Francisco à “fraternidade e à amizade social”, para que os homens sejam todos irmãos.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus