O secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) mostrou-se esta sexta-feira contra a aplicação de eventuais sanções da Comissão Europeia a Portugal e Espanha devido a défice excessivo, reclamando uma aposta no investimento e crescimento.
Espanha e Portugal, diz Ángel Gurría, fizeram um "grande esforço de consolidação orçamental" e estão entre os países que "mais" reformas tiveram de aplicar em virtude da crise económica e financeira dos últimos anos.
"Parece-me que ninguém deve ser punido", vincou o responsável, que falava em Paris na apresentação de dois relatórios económicos anuais da OCDE: um sobre a União Europeia (UE) e um outro virado para a zona euro.
Sublinhando não falar no "abandono da disciplina" das contas públicas quando pede que não haja sanções, o responsável da OCDE reclama da UE um exercício "controlado e colectivo" de aposta de dinheiro público em áreas, como a educação, que fomentem o crescimento económico.
Na semana passada, a Comissão Europeia reiterou que se limitou a seguir as regras da governação económica europeia ao adiar uma decisão sobre eventuais sanções a Portugal e Espanha devido ao défice excessivo, desvalorizando assim as críticas do presidente do Eurogrupo, mas também de alguns Estados-membros em sede de Ecofin (ministros das Finanças da UE), designadamente do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, que considerou que "aliviar as regras não ajuda a aumentar a confiança".
O parlamento português aprovou na quinta-feira dois votos de condenação, um da esquerda e outro do PSD/CDS-PP, contra a aplicação de sanções europeias a Portugal, o que levou o presidente da Assembleia da República a congratular-se com o "consenso".
A OCDE, por seu turno, pediu o aumento do investimento público e privado para potenciar o crescimento económico, acrescentando que o investimento está ainda longe do período pré-2007.
No seu relatório anual para a Zona Euro, divulgado esta sexta-feira, a entidade sublinha que, "ao contrário dos Estados Unidos, o investimento ainda está muito abaixo dos níveis de 2007, em particular nos países mais atingidos pela crise", como Portugal.