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“A renúncia do Papa Bento XVI foi um ato de coragem e não como alguns insinuam, um ato de cobardia”, afirma Manuel Carvalho da Silva à Renascença, como um ponto prévio na reação à morte de Joseph Ratzinger.
O antigo secretário-geral da CGTP lembra que apesar de algumas controvérsias que podem ter marcado o seu percurso de vida, Bento XVI tinha entre mãos uma agenda muito complexa, com os problemas da economia e, especialmente, da pedofilia. Mas a renúncia acaba por ser um ato de coragem porque é um ato para a abertura e o enfrentar dos problemas.
Carvalho da Silva lembra que na Encíclica Caritas in Veritate (Caridade na Verdade) e noutros documentos, Bento XVI já aborda estas questões, começa a mexer nas preocupações económicas. “Abre a possibilidade em que agora o Papa Francisco pegou de forma muito profunda, de abertura para situar o lugar do Trabalho e o valor do Trabalho na economia e na sociedade e que leva mesmo a considerar que o Trabalho está no centro da política”.
O sociólogo e comentador da Renascença realça ainda algumas dimensões do pensamento filosófico de Joseph Ratzinger, nomeadamente a abordagem ao Relativismo e a relação entre as dinâmicas que geram e afirmam o individualismo na sociedade. “É um ângulo de análise muito importante, como sabemos, nas grandes económicas e sociais que temos pela frente o individualismo é uma questão central”.
“Percebeu que as mudanças que já estavam no horizonte eram uma nova era, com novas relações de poder e, portanto, a colagem da Igreja que tinha acontecido anteriormente, uma Igreja muito colada às teorias do fim da História, ao domínio do capitalismo neoliberal que estava em curso - e muito provavelmente algumas das controvérsias e contradições em que esteve envolvido também contribuíram - acho que Bento XVI, em diversos tópicos e momentos, assumiu uma ruptura".
Mas, para Manuel Carvalho da Silva, são contributos importantes. “Quem começa a abrir a porta é tão importante como quem, depois, faz passar o que deve passar pela porta aberta”.