O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse nesta sexta-feira que espera que Israel crie as condições para um aumento rápido e efetivo da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, descrevendo a situação no enclave palestiniano após seis meses de guerra como "absolutamente desesperada".
Israel aprovou a reabertura da passagem de Erez para o norte de Gaza e o uso temporário do porto de Ashdod, no sul de Israel, depois de o presidente dos EUA exigir medidas para aliviar a crise humanitária em Gaza. Joe Biden afirmou que que poderiam ser impostas condições ao apoio dos EUA a Israel se tal não acontecesse.
"Quando se fecham as portas da ajuda, abrem-se as portas para a fome. Mais de metade da população – mais de um milhão de pessoas – enfrenta uma fome catastrófica. As crianças em Gaza morrem por falta de comida e água", disse Guterres aos jornalistas.
“Isso é incompreensível e totalmente evitável”, disse ele. “Nada pode justificar a punição coletiva do povo palestiniano”.
A crise humanitária no enclave palestiniano afeta 2,3 milhões de pessoas. A indignação global aumentou depois de, na segunda-feira, um ataque aéreo israelita ter matado sete pessoas que trabalhavam para a World Central Kitchen, uma ONG de distribuição alimentar.
A ONU afirma que pelo menos 196 trabalhadores humanitários morreram na guerra nos últimos seis meses, desde que Israel decidiu retaliar contra o Hamas em Gaza devido aos massacres efetuados pelo grupo islamita a 7 de outubro.
“O governo israelita reconheceu erros”, disse Guterres. “Mas o problema essencial não é quem cometeu os erros, é a estratégia militar e os procedimentos em vigor que permitem que esses erros se multipliquem continuamente”.
“Corrigir essas falhas requer investigações independentes e mudanças significativas que possam ser medidas no terreno”, disse ele. “196 trabalhadores humanitários foram mortos e queremos saber por que cada um deles foi morto”.
Exército israelita nega uso de inteligência artificial
Guterres também disse estar “profundamente preocupado” com relatos de que os militares israelitas têm utilizado inteligência artificial para ajudar a identificar alvos de bombardeamentos em Gaza. No entanto, os militares israelitas negam que a IA tenha sido usada para identificar suspeitos de extremismo e alvos.
“Nenhuma parte das decisões de vida ou de morte que afetam famílias inteiras deve ser delegada ao cálculo frio de algoritmos”, disse Guterres.
Israel afirma que cerca de 1.200 pessoas foram mortas por militantes do Hamas a 7 de outubro e mais de 250 pessoas feitas reféns. As autoridades de saúde de Gaza dizem que mais de 33 mil pessoas foram mortas desde então.
“Nos últimos seis meses, a campanha militar israelita trouxe morte e destruição implacáveis aos palestinianos em Gaza”, disse Guterres. "As suas vidas estão destruídas. O respeito pelo direito humanitário internacional está em frangalhos."