A madre superiora do Mosteiro de São Tiago Mutilado, na Síria, em entrevista exclusiva à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), alerta para a difícil situação do país, com uma com uma taxa de pobreza asfixiante, mais de 13 milhões de pessoas deslocadas, dentro e fora das fronteiras, e cerca de 6,5 milhões de crianças a precisarem de ajuda humanitária.
“Posso dizer que esta situação é catastrófica. A sobrevivência torna-se impossível para o nosso povo, sejam cristãos ou não, porque nós, no Mosteiro de São Tiago Mutilado, cuidamos de toda a gente, porque todos são seres humanos criados à imagem de Deus”, relata.
Na Síria, o acesso a bens essenciais como o pão, eletricidade ou combustíveis está cada vez mais difícil e segundo a madre Agnès é fundamental que o mundo não se esqueça o país e as suas populações vítimas de uma guerra que parece interminável.
“Tem de haver uma solução, tem de haver uma solução internacional para a situação na Síria, mas também uma solução de generosidade humana”, diz a religiosa.
“Por isso, esperamos que, tal como a Fundação AIS, outras instituições católicas olhem de mais perto para esta situação desesperada na Síria, para nos ajudar a ajudar e ajudar todos os que estão a ajudar estas pessoas, porque hoje mais de 85% da população síria vive com necessidades. Há 13 milhões que viram as suas casas destruídas, que não têm casa. Consegue ver-se por satélite a situação dessas casas destruídas, principalmente nas grandes cidades”, acrescenta.
Embargo económico prejudica os mais pobres
Nesta entrevista à AIS, a partir do Mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara, a madre Agnès de la Croix insiste que o embargo económico, imposto ao regime de Damasco pelos Estados Unidos da América e também pela União Europeia está a prejudicar o país.
“Este embargo é injusto porque quem paga o preço mais elevado é o cidadão e o cidadão é inocente, não tem nada a ver com as partes beligerantes. Por isso, é muito importante a oração e chamar a atenção para a urgência de uma solução internacional para a resolução deste conflito e para o fim deste embargo”, defende a religiosa.
Para a Madre Agnès é urgente olhar para as populações, as que mais sofrem, as vítimas das sanções impostas ao regime de Bashar al-Assad, sublinhando que “são as pessoas inocentes que estão a morrer, a ser expulsas, a sofrer, a pagar o preço, a emigrar”.
“Mais uma vez, rezamos e temos esperança de que os líderes desses países poderosos voltem à razão e à justiça, voltem ao respeito pela lei internacional e deixem de interferir nos destinos dos povos da Síria e nas suas decisões”, diz.
“Um cristão no Médio Oriente não é um cristão na Europa ou no mundo ocidental”
A Madre Agnès era carmelita no Líbano quando recebeu um apelo para trabalhar mais de perto pela unidade original da Igreja, dos cristãos e com os judeus-cristãos. E foi assim que nasceu a comunidade na vila de Qara, fundada num antigo mosteiro do séc. VI que se encontrava em ruínas e que foi, entretanto, reconstruído.
Mas dado o clima de guerra e as dificuldades do país, “os cristãos sírios estão a ir-se embora, a deixar a Síria, muitas vezes de barco, morrendo pelo caminho e a sua situação é também muito precária nos países para onde vão como refugiados”, alerta.
Segundo a religiosa, é muito importante “ajudar as famílias cristãs a permanecer na sua terra”, porque não é fácil para um cristão assumir a sua fé, num contexto tão complexo como o que existe no Médio Oriente.
“A nossa realidade é uma realidade difícil. Um cristão no Médio Oriente não é um cristão na Europa ou no mundo ocidental, onde há liberdade de religião. […] Temos esperança de que, de mãos dadas, nos possamos ajudar uns aos outros e ajudar os Cristãos a ficar nesta Terra Santa. Este é um dos objetivos principais da nossa comunidade”, conclui.