Senadores republicanos e democratas, antigos presidentes dos Estados Unidos e líderes estrangeiros demarcaram-se da posição de Donald Trump sobre os recentes confrontos com elementos de extrema-direita, no dia em que se realizaram as cerimónias fúnebres da mulher morta num ataque em Charlottesville, na Virgínia.
O Presidente norte-americano voltou a falar do caso na terça-feira e reacendeu a polémica. Disse que "há boas pessoas em ambos os lados" e também culpou os "dois lados", colocando ao mesmo nível os manifestantes de extrema-direita e activistas anti-racismo que se envolveram em cenas de pancadaria.
Na origem do mais recente caso de tensão racial nos EUA estão os planos para retirar de Charlottesville a estátua de Robert E. Lee, um general que na guerra civil liderou as tropas do sul defensoras da escravatura.
Trump tem sido criticado mesmo por destacados membros do seu partido. Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, defende que “as mensagens e ódio e fanatismo” de supremacistas brancos, do Ku Klux Klan e de grupos neonazis não são bem-vindas em qualquer lugar dos Estados Unidos.
“Não podemos ser tolerantes com uma ideologia de ódio racial. Não há neonazis bons e quem apoia as suas posições não é um defensor das liberdades e dos ideais americanos. Temos todos a responsabilidade de nos levantarmos contra o ódio e a violência, onde quer que este mal surja”, disse Mitch McConnell.
Num comunicado conjunto, os antigos presidentes George H.W. Bush e George W. Bush declararam que “a América tem sempre que rejeitar o fanatismo racial, o anti-semitismo e todas as formas de ódio”.
O antigo Presidente Barack Obama citou Nelson Mandela no Twitter, para condenar o discurso de ódio: “Ninguém nasce a odiar uma pessoa por causa da sua cor, o seu passado ou a sua religião."
O governador do Ohio, o republicano John Kasich, lembra que não há equivalência moral entre o Ku Klux Klan, os neonazis e as outras pessoas.
“Isto é terrível. O Presidente dos Estados Unidos tem que condenar estes grupos de ódio”, apelou John Kasich em declarações à televisão NBC.
O governador considera que Trump está a dar trunfos a estes movimentos e licença para realizarem novas acções nas ruas dos Estados Unidos.
Militares e Reino Unido não toleram racismo
Os militares são conhecidos por ficarem à margem da política, mas desta vez o chefe do Exército, o general Mark Milley, pronunciou-se sobre a polémica.
“O Exército não tolera o racismo, o extremismo ou o ódio nas nossas fileiras. É contra os nossos valores e tudo o que defendemos desde 1775”, escreveu o general no Twitter.
Os incidentes de Charlottesville já saltaram fronteiras. A primeira-ministra britânica, Theresa May, foi questionada pelos jornalistas sobre o caso e respondeu que “não vê equivalência entre quem professa ideais fascistas e quem se opõe a eles”.
“É importante que quem ocupa posições de responsabilidade condene as ideias de extrema-direita onde quer que as ouçamos”, disse Theresa May.
O secretário-geral das Nações Unidas também condenou o racismo e a xenofobia. Numa mensagem publicada na última noite na rede social Twitter, António Guterres escreve que “o racismo, a xenofobia, o anti-semitismo e a islamofobia” estão a “envenenar as nossas sociedades”.
A reacção de Donald Trump aos confrontos de Charlottesville levou à demissão de vários conselheiros económicos. Na resposta, o líder norte-americano decidiu esta quarta-feira acabar com dois grupos de apoio ao Presidente.
O vice-presidente, Mike Pence, saiu esta quarta-feira em defesa de Donald Trump. Garantiu que a Casa Branca não vai permitir que uma pequena minoria divida a maioria dos americanos.
O antigo líder do movimento supremacista branco Ku Kux Klan, David Duke, agradeceu a "honestidade" de Donald Trump, numa reacção à declaração de terça-feira.
“Mataram a minha filha para a calar, mas amplificaram a sua voz”
Centenas de pessoas marcaram esta quarta-feira presença nas cerimónias fúnebres da vítima de um ataque em Charlottesville, no estado norte-americano da Virgínia.
Heather Heyer participava numa manifestação contra a extrema-direita quando foi mortalmente atropelada, no sábado, num ataque levado a cabo por James Fields, um admirador de Adolf Hitler e dos ideais nazis.
A vítima tinha 32 anos e era auxiliar jurídica. Os colegas recordam Heather como uma pessoa dedicada à justiça social.
Durante as cerimónias fúnebres, a mãe de Heather, Susan Bro, deixou uma mensagem aos radicais: “Quiseram matar a minha filha para a calar, mas amplificaram a sua voz”.
Susan Bro espera que a morte da filha não seja em vão e que sirva para a América estar atenta e indignar-se contra os movimentos racistas.
Depois destas palavras o Paramount Theater, onde decorreu a homenagem, ficou em silêncio e ouviu-se o tema "Amazing Grace", com o som do mar em fundo, evocando a viagem dos escravos para a América.
O governador da Virgínia, Terry McAuliffe, e o senador democrata, Tim Kane, marcaram presença nas cerimónias da vítima do ataque em Charlottesville.