"São dados preocupantes que podem explicar a desmotivação da classe médica e o facto de 406 vagas não terem sido ocupadas num concurso recente para especialidades", reage o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, em entrevista à Renascença.
O estudo divulgado esta segunda-feira pelo Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI) conclui que um em cada quatro dos internos está em situação grave de esgotamento e apenas 16,5% diz ter um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dada a instabilidade e pressão diária que se vive no Serviço Nacional de Saúde.
“Cerca de 85% dos médicos internos fazem horas extraordinárias", adianta o bastonário.
Em média, o corpo médico interno trabalha 53 horas por semana e, é a partir deste dado, que justifica a incapacidade de os clínicos não conseguirem ter tempo para fazer a formação necessária para avançar na carreira.
"Muitas vezes, os médicos internos cobrem escalas de urgência e prejudicam a sua formação. Devia existir um tempo protegido para os próprios orientadores, médicos especialistas, poderem dar formação aos médicos mais jovens", salienta Carlos Cortes.
Dos 1.737 inquiridos, num total de mais de 10 mil médicos internos, um cada três dos médicos internos afirma socorrer-se a apoio psicológico ou psiquiátrico.
A par da exaustão emocional, a desumanização/despersonalização e a perda de realização profissional crescentes reportadas no estudo, Carlos Cortes denuncia os graves sinais de “burnout" e mostra preocupação com a condição laboral de muitos clínicos, garantindo que a Ordem dos Médicos vai "tentar perceber quais são os motivos que levaram médicos a não optar por uma especialidade".
Este estudo da Ordem dos Médicos vai ser analisado para, em conjunto com o Ministério da Saúde, perceber a situação para que "não se volte a repetir no próximo ano".
"Nós temos, por exemplo, o conhecimento de que alguns médicos já deixaram a profissão médica, outros emigraram para fazer a sua formação em países estrangeiros”, remata Carlos Cortes.