A capacidade de espanto remete para as maravilhas de Deus, mas “num mundo cada vez mais artificial, onde o homem se rodeou das obras das suas próprias mãos, o grande risco é perder o espanto”, lamentou esta segunda-feira o Papa.
Num discurso aos membros da “Fondazione Ente dello Spettacolo”, uma iniciativa católica fundada pelos bispos italianos em 1947 destinada a promover a cultura cinematográfica, Francisco sublinhou a importância “da arte como espanto, antes de mais para quem a faz, para o artista”.
O Papa recordou a obra-prima de Tarkovski, “Andrej Rublev”, em que o artista permanece em silêncio devido ao trauma da guerra. “Faz pensar no que está a acontecer, também hoje, no mundo”, disse Francisco.
“Rublev não pinta mais, nem fala mais. Vagueia em busca de significado, até que testemunha o toque de um sino. E ao primeiro badalar daquele grande sino, o seu coração reabre-se, sua língua solta-se, volta a falar e recomeça a pintar. E a tela é preenchida com as cores dos seus ícones. O som do sino, que sai da terra e do bronze, como que por milagre, enche de espanto a alma do artista e, de certo modo, ele ouve nela a voz de Deus, que lhe sussurra: "Abre-te!". Como Jesus havia dito no Evangelho: "Effatha" (Mc 7,34).”
Referindo-se ao atual contexto, o Santo Padre considera que “o mundo, atormentado pela guerra e por tantos males, precisa de sinais, de obras que suscitem espanto, que deixem transparecer a maravilha de Deus, que não desiste de amar as suas criaturas e de se maravilhar com a sua beleza”.
Francisco alertou para os riscos de se perder a capacidade de espanto “num mundo cada vez mais artificial, onde o homem se rodeou das obras feitas pelas suas próprias mãos”. E confiou aos artistas a tarefa de “despertar a maravilha”, considerando-a um “aspeto essencial para a evangelização, porque não há fé sem espanto”, concluiu.