Há pobreza em Moçambique fruto da instabilidade gerada pela situação em Palma, na província de Cabo Delgado. Os ataques armados têm levado milhares de pessoas a fugir para Pemba. Uma empresária portuguesa que vive e trabalha naquela cidade conta à Renascença a situação que se vive nas ruas.
“Vivo há 24 anos em Moçambique, nunca tinha visto pobreza e pessoas com fome”, conta Mafalda Ferreira. Esta portuguesa explica que a cidade de Pemba tem recebido 700 mil refugiados. “Existem pessoas a passar necessidades, completamente deslocadas daquilo que é o meio ambiente delas.”
Os que fogem da violência são “pessoas que nunca viveram numa cidade” lembra esta empresária que refere que “muitas delas nem português sabem falar”. Segundo esta portuguesa, que tem empresa aberta em Pemba, os refugiados “são pessoas que estavam habituada a viver da terra” e que agora “não têm dinheiro” para ir a um supermercado.
Alguns dos funcionários desta empresária têm acolhido familiares que estão em fuga da região onde o conflito armado tem provocado dezenas de vítimas. “Têm 20 pessoas em casa e chegam ao trabalho a chorar a dizer que não têm como os sustentar.”
A situação que já dura há alguns anos “está cada vez pior”, sublinha na entrevista Mafalda Ferreira que conta que em Moçambique há pouca informação sobre o que está a acontecer. O que se conhece “sabe-se pela comunicação internacional”. Inclusive, muitas vezes são surpreendidos quando ouvem as notícias internacionais sobre Cabo Delgado.
Cabo Delgado é a província mais a norte de Moçambique e Pemba, a sua capital. Mafalda relata que para ir de Pemba a Palma – que tem sido o epicentro da violência armada - tem de percorrer 450 quilómetros. “É preciso ter em conta que Cabo Delgado é grande”, o que se está a passar “não acontece ali ao lado” de Pemba.
Contudo, a cidade tem sido inundada de quem foge aterrorizado à violência. Esta portuguesa testemunha que “as pessoas estão a refugiar-se em Pemba, as ONG’s estão em Pemba, as empresas estão em Pemba, a cidade não tem infraestrutura para aguentar tanta gente”. Segundo Mafalda, “vai começar a haver rutura sociais, vai começar a problemas sociais” e isso é o que mais preocupa esta portuguesa que vive e trabalha no país.