O PCP quer que Portugal aposte na produção de comboios e propõe um investimento de mais de três mil milhões de euros nos próximos 15 anos para renovar a frota e aumentar a oferta de ligações ferroviárias.
"O PCP apresenta hoje aqui uma proposta ao povo português para que se mobilizem os recursos e meios necessários para que em Portugal se voltem a produzir comboios que respondam não apenas às necessidades de renovação de frota que se irão colocar nos próximos anos, mas também a sua modernização e expansão. Uma proposta que permite que se construa em Portugal aquilo que nos estão a obrigar a comprar lá fora", afirmou o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa.
O PCP apresentou publicamente, numa iniciativa em Lisboa, um projeto de resolução (iniciativa sem força de lei) que entregou na Assembleia da República e que recomenda ao Governo que "todos os concursos para aquisição de material ferroviário incluam a imposição da significativa incorporação nacional na sua produção, manutenção e reparação".
Outra das recomendações constantes no documento distribuído aos jornalistas é que o executivo de António Costa considere "a reconstrução da capacidade nacional de produção de material circulante uma prioridade nacional face à necessidade de avultados investimentos na renovação e modernização da frota", face "à necessidade de substituir importações por produção nacional", além da criação de emprego.
Na apresentação pública, que decorreu no Centro de Trabalho Vitória, onde esteve também o deputado Bruno Dias, o líder do PCP explicou que esta iniciativa assenta em "três eixos fundamentais": "reconstruir um comando único do setor ferroviário nacional", "apostar de facto no setor ferroviário como um setor estratégico para a mobilidade de pessoas e mercadorias e para a melhoria do ambiente e da qualidade de vida" e "aproveitar o volume de investimento necessário para reconstruir a produção nacional de material circulante".
O PCP estima que "nos próximos 15 anos o volume de investimento necessário em material circulante ronde os 3,75 mil milhões de euros, cerca de 250 milhões por ano" e Jerónimo de Sousa defendeu que, "se o Estado não se limitar a ir às compras ao mercado e antes apostar na reconstrução da capacidade produtiva nacional, contribuirá para que uma parte importante dele se reproduza economicamente, gerando milhares de postos de trabalho e riqueza em Portugal para além de permitir no longo prazo diminuir os custos desse investimento".
O comunista assinalou que este "é um investimento significativo" mas considerou que "existem os recursos suficientes, seja no quadro do chamado Plano de Recuperação e Resiliência e dos quadros comunitários de apoio, seja no quadro do Orçamento do Estado, seja por via de outras possibilidades de financiamento para investimentos produtivos".
O secretário-geral comunista salientou que este investimento permitirá "substituir toda a atual frota nacional para o transporte ferroviário pesado de passageiros", vai "permitir aumentar a oferta de transporta ferroviário de passageiros onde tal se coloque como necessário" e ainda "rentabilizar o conjunto de investimentos na infraestrutura que estão em curso, que estão planificados ou possam ser planificados".
Entre os exemplos concretos, Jerónimo de Sousa apontou o aumento da "oferta nos comboios urbanos em todas as atuais linhas, substituir a frota de Cascais e criar novos serviços urbanos a Leixões e à linha do Oeste", a eletrificação e modernização de linhas, melhorar "a oferta do intercidades assumindo o objetivo de disponibilizar ligações rápidas, diretas e de capacidade flexível", além de "serviços complementares", "substituir e alargar a frota dos alfas, dando pleno uso à nova ligação Lisboa-Porto" e ainda "reconstruir e alargar as ligações internacionais, incluindo na vertente de alta velocidade".
"Para o PCP, o investimento que está a ser feito na ferrovia nacional, sedo insuficiente, não pode nem dever ser para ver passar os comboios alemães, franceses ou espanhóis", frisou.
Os comunistas recomendam ainda ao Governo a "reunificação do setor ferroviário", a fixação de um plano nacional para a rede ferroviária a 30 anos, um plano nacional para o material circulante que "preveja as necessidades" futuras.
[título corrigido - PCP propõe investimento de três mil milhões e não de três milhões]