O Papa Francisco juntou esta quinta-feira a sua voz à de milhões de libaneses naquilo que descreveu como um “grito” para que aquele pequeno país no Médio Oriente continue a ser um “projeto de paz”.
A convite de Francisco estiveram em Roma os principais líderes das diferentes comunidades cristãs, católicas, ortodoxas e protestantes, que residem há séculos no Líbano, na maior parte das vezes em paz com os seus vizinhos muçulmanos sunitas, xiitas e drusos.
O objetivo do encontro ecuménico era precisamente o de rezar a uma só voz pela paz de um país que atravessa uma das mais graves crises da sua história. Depois de uma longa e cruel guerra civil e de ter conseguido finalmente sacudir o jugo da ocupação síria, o Líbano voltou nos últimos anos a passar por momentos difíceis, fruto de sucessivos impasses políticos, uma gravíssima crise económica e, mais recentemente, uma terrível explosão de depósitos químicos no Porto de Beirute, que arrasou uma grande parte da cidade.
Mesmo perante este cenário, os partidos políticos continuam incapazes de chegar a consensos para formar governo, com a situação de caos a levantar o medo de um regresso dos dias de guerra entre as diferentes comunidades étnicas e religiosas.
“Nestes tempos de desgraça, queremos afirmar com todas as forças que o Líbano é e deve continuar a ser um projeto de paz. A sua vocação é ser uma terra de tolerância e pluralismo, um oásis de fraternidade onde diferentes religiões e confissões se encontram, onde comunidades diversas convivem, sobrepondo o bem comum às vantagens particulares”, disse Francisco, no discurso com que terminou o encontro.
Razão mais do que suficiente para elevar a voz, considera o Papa. “Este grito tornou-se, hoje, o grito dum povo inteiro, o povo libanês desiludido e exausto, carecido de certezas, de esperança, de paz. Com a nossa oração, quisemos acompanhar este grito. Não desistamos, não nos cansemos de implorar, do Céu, aquela paz que os homens têm dificuldade em construir na terra. Peçamo-la insistentemente para o Médio Oriente e para o Líbano.”
Evocando o longo legado de paz e de civilização do Líbano, e o exemplo de convivência pacífica, o Papa afirmou ainda que “sendo sem dúvida um pequeno-grande país, o Líbano é mais do que isso: é uma mensagem universal de paz e fraternidade que se eleva do Médio Oriente”.
Num encontro inédito, estiveram em Roma representantes das diferentes comunidades católicas, dos protestantes e de diferentes igrejas ortodoxas, incluindo o Patriarca da Igreja Apostólica da Arménia. Não esteve presente nenhum hierarca da Igreja Católica Arménia, uma vez que os seus bispos estão reunidos em sínodo para escolher um novo Patriarca. Desta união saiu um apelo em nome de todos os cristãos. “Nós, cristãos, somos chamados a ser semeadores de paz e artesãos de fraternidade, a não viver de rancores e remorsos passados, não fugir das responsabilidades do presente, a cultivar um olhar de esperança sobre o futuro. Acreditamos que Deus indique um único rumo para o nosso caminho: o rumo da paz. Por isso, aos irmãos e irmãs muçulmanos e doutras religiões, asseguramos abertura e disponibilidade para colaborar na construção da fraternidade e na promoção da paz.”
A cerimónia ecuménica que teve lugar em Roma foi marcada por orações e cânticos proferidos por representantes das diferentes comunidades e em diferentes línguas.
Estiveram presentes, entre outros, o cardeal Bechara Boutros al-Rai, Patriarca da Igreja Maronita; o Patriarca Inácio José III, da Igreja Síro-Católica; o Patriarca José Absi, da Igreja Melquita; o Patriarca João X, da Igreja Greco-ortodoxa e o Catolicós Aram I, da Igreja Apostólica da Arménia.