Novo plano do Aleixo. "Aquilo está um caos e ninguém faz nada", alerta população
12-07-2024 - 09:28
 • Renascença

No dia em que termina o período de discussão pública do plano para o antigo bairro social, moradores criticam solução apresentada para o local.

A população da zona do Aleixo, no Porto, está descontente com o projeto apresentado por um consórcio, do qual faz parte a câmara municipal do Porto, para os terrenos do antigo bairro social.

Os cinco edifícios que compunham a urbanização são agora imagem do passado. No mesmo local, que hoje é um descampado, nascerá um parque verde e outras cinco torres — uma delas será a mais alta da Invicta. O terreno tem uma dimensão de quase 80,000 m2, dos quais 26,000 m2 serão destinados a habitação a preços acessíveis.

O período de consulta pública do projeto termina esta sexta-feira.

Clementina, de 61 anos, viveu desde os 12 no bairro do Aleixo. Recorda com saudade o lugar onde criou os seus dois filhos e a tristeza de quando teve de abandonar o local — por "não ter poder", diz.

A portuense considera que foi o dinheiro que levou à demolição das torres, onde viviam centenas de pessoas. "Isto é tudo dinheiros, foi por isso que me tiraram [do Aleixo]", afirma, emocionada.

O problema da droga, muitas vezes associado ao bairro, não é uma questão para Clementina — considera que "droga infelizmente há em todo lado".

No local onde antes estavam as torres há colchões, roupas velhas e seringas espalhados pelos cantos. Diariamente, há grupos de toxicodependentes a consumir drogas. "Aquilo está um caos, que eles não metem a mão a nada. Às vezes ainda vão lá varredores, porque eles não mandam ninguém fazer uma limpeza geral naquilo", denuncia.

"É muito inseguro andar na rua"

Um outro morador da zona (que não se quis identificar por receio de represálias, mas que aceitou dar a voz) também aponta para um aumento do sentimento de insegurança na zona desde a queda da última torre, em 2019. "Hoje em dia, roubam tudo e mais alguma coisa e a gente não tem a quem recorrer, a polícia não faz nada", queixa-se.

"As pessoas é que se ajudam umas às outras para poderem ficar mais tranquilas, mas mesmo assim é muito inseguro andar na rua, ao domingo principalmente, quando as ruas estão vazias", acrescenta.

Dono de um negócio local, este residente acrescenta que "muitas das pessoas [que cometiam crimes] não viviam no Aleixo, eram pessoas que roubavam para trazer as coisas para o Aleixo".

"A base dos problemas sociais está sempre na educação"

Ouvido pela Renascença, outro dono de um comércio local (que também não se quis identificar, mas também aceitou gravar o testemunho para a Renascença) critica o projeto que considera ter apenas em conta o "interesse económico".

"Todos sabemos que o espaço, o metro quadrado, neste momento é caríssimo, está virado para o rio e para o mar. Esqueceram-se [a câmara] mais uma vez da inclusão das pessoas desfavorecidas", considera.

"Atiram para a frente o problema, e nós temos que exigir, civicamente, mais atitude dos nossos gestores públicos", defende, considerando que "este é um caso que é paradigmático": "Vão sempre pela opção mais fácil, e nunca vão ao fundo dos problemas, nunca."

Para o comerciante, "a base dos problemas sociais e das comunidades está sempre na educação". "Se dermos as mesmas oportunidades a uma criança que infelizmente nasceu numa família mais desfavorecida, obviamente vamos ter uma sociedade mais justa, mais equilibrada, que aceita as diferenças", continua.

O empresário termina a atacar a demolição do bairro, que "não teve o efeito esperado, bem pelo contrário, porque as pessoas deslocalizaram-se pelos espaços, criou mais alarme social, e a comunidade ficou com um problema em mãos que antes não existia".

Apesar de terminar esta sexta-feira a discussão pública do projeto, ainda não são conhecidas as conclusões do processo. Contactada pela Renascença, a câmara municipal do Porto diz que divulgará esses dados "atempadamente".