“Reanimar? – histórias de bioética e cuidados intensivos” é o título de um livro que foi lançado este sábado, para ajudar na reflexão que está a ser feita sobre a eutanásia.
O autor é António Maia Gonçalves, especialista em medicina interna e com larga experiência nesta área. O médico do Porto espera que o livro seja “um sinal de esperança”, porque há muito humanismo e histórias felizes para contar, mas também alertas que é preciso fazer.
"Se a eutanásia vier a ser legalizada em Portugal, os médicos não devem ser implicados no processo", afirma António Maia Gonçalves, que sustenta que a intervenção dos médicos na eutanásia vai criar desconfiança nas famílias dos doentes.
"Se os médicos fossem responsáveis pela eutanásia, eu acho que as famílias teriam mais receio, mais pudor que as decisões não sejam mais aligeiradas. Implicar a medicina na eutanásia é um erro. A prática da eutanásia de tomar uns comprimidos, pode-se tomar em casa, não obriga a qualquer cuidado hospitalar. Eu pessoalmente sou contra a eutanásia", refere.
Maia Gonçalves lembra que na Holanda, 3% das mortes já são por eutanásia e não esconde o desconforto que o tema lhe causa. "Os médicos que trabalham numa área tão sensível como a dos cuidados intensivos sentir-se-ão desconfortáveis num contexto de eutanásia. Nós estamos ali para salvar.”
E é neste contexto que António Maia Gonçalves espera que o seu livro constitua um sinal de esperança: "É tentar que as pessoas, quando confrontadas com uma situação de emergência, possam entender todas aquelas máquinas e a conversa que os médicos vão ter. E falar de risco, de prognóstico. E no fundo desmistificar um bocadinho todo aquele manancial tecnológico e garantir às pessoas que há um humanismo muito presente sempre nos cuidados intensivos", diz.