Aníbal Cavaco Silva surgiu de surpresa no pavilhão municipal dos desportos em Almada, tendo sido anunciado minutos antes pelo presidente da mesa do Congresso Miguel Albuquerque, que se referiu ao ex-líder do partido como um "estadista dos séculos XX e XXI".
O antigo primeiro-ministro e Presidente da República apareceu ao princípio da noite, manteve-se sempre em silêncio até entrar no recinto onde decorre o Congresso e sentou-se na primeira fila ao lado da sua ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite, que de resto, chegou a Almada minutos antes de Cavaco.
Era o trunfo que estava guardado por Luís Montenegro e o líder do PSD, que sempre teve o apoio público de Cavaco, desfez-se em elogios na segunda intervenção do dia, precisamente em horário nobre para os diretos da comunicação social.
Montenegro arrancou a intervenção a saudar "muito especialmente" Ferreira Leite e Cavaco Silva, referindo que presença de ambos "enche a alma, dá alento e tem grande significado" para o PSD.
Sobre o ex-Presidente da República, Luís Montenegro disse que se trata do "responsável pelo maior e mais profundo legado de desenvolvimento que Portugal conheceu no pós 25 de abril".
Chamando sempre "presidente" a Cavaco Silva, o líder do PSD declarou-lhe "gratidão" e referiu o "grande orgulho" que tem pelo que o ex-primeiro-ministro "desenvolveu à frente do Governo".
A partir do palco, Luís Montenegro gabou a "visão", a "honestidade" e a "sensibilidade social" de Cavaco, somada à "vontade de dar às pessoas os instrumentos de que elas precisam para atingirem os seus objetivos e sonhos".
Durante o discurso Montenegro disse-se convencido que vai ganhar as eleições legisaltivas de março e classificou a marca de Cavaco no país como "uma referência e uma grande inspiração para aquilo que vamos fazer em Portugal nos próximos anos" e prometeu que o partido vai "estar à altura" do legado do ex-Presidente "nos próximos anos".
No final da intervenção, Luís Montenegro dirigiu-se diretamente do palco para abraçar Leonor Beleza, ex-ministra da saúde de Cavaco e atual conselheira de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa. Logo a seguir foi a vez do cumprimento do líder do partido a Cavaco.
Saíram ambos juntos do pavilhão de Almada e o ex-líder do PSD explicou que aceitou o convite de Montenegro "porque neste congresso não estava em causa a escolha dos dirigentes do partido".
A mensagem quis deixar é a de que o país vive "uma situação extremamente complicada" e salientou que até já tinha antecipado "há seis meses sobre a possibilidade de o primeiro-ministro apresentar a demissão e de serem convocadas eleições antecipadas".
Cavaco diz-se "absolutamente convencido que Portugal precisa de uma mudança que traga uma nova esperança aos portugueses" e que "sem essa mudança" será "impossível melhorar as condições de vida das populações e impedir que os nossos jovens mais qualificados fujam para o estrangeiro".
Sobre os resultados eleitorais de março, prognósticos só no final do jogo. "A resposta compete aos portugueses" e Cavaco confia na sua "sabedoria" para tomar a decisão.
O ex-líder do PSD mantém o que disse há seis "de forma clara" sobre a "competência política do dr. Luís Montenegro para exercer as funções de primeiro-ministro".
Em relação ao assunto do momento no PSD - coligações pré-eleitorais ou não - Cavaco respondeu que esteve no Congresso de Almada para "ouvir" e não para "dar lições a ninguém, muito menos ao líder do partido".
Sobre esta matéria o ex-líder do PSD diz não querer "interferir de nenhuma forma sobre as decisões que os órgãos próprios do partido e o presidente possam vir a tomar". Com Cavaco a despedir-se: "Se me permitem, a minha mulher está à minha espera para jantar e eu gostaria de me juntar a ela". Seguiu caminho e momentos depois o congresso terminou.