Um PS ainda em estado de choque com a demissão de António Costa e os contornos judiciais dessa saída, mas ao mesmo tempo numa espécie de euforia pela substituição do líder do partido que tira o foco do controlo de danos que tudo isto requer.
Esta é uma das preocupações manifestadas por um dirigente nacional socialista em conversa com a Renascença. "Não consigo dar muita importância", responde este membro da Comissão Política quando questionado sobre os avanços quer de Pedro Nuno Santos quer de José Luís Carneiro para a liderança do partido.
A mesma fonte refere que é difícil começar a discutir a sucessão "quando temos um primeiro-ministro que se demite por causa de uma nota de imprensa e quando o [Vítor] Escária tem aquele dinheiro", referindo-se ao ex-chefe de gabinete de Costa que, entretanto, foi detido.
"Vamos a votos neste cenário?", questiona ainda este dirigente, argumentando que o partido "devia estar mais preocupado com um caso de corrupção" e de como proteger o partido nestas condições.
"Isto desprotege o PS", acrescenta este socialista, que só vê Carlos César "a defender o partido, mas é só ele". O que bate de frente com outros tempos.
"Antigamente, havia um grupo. Havia António Vitorino, Jorge Coelho, o Jaime Gama", conclui este dirigente nacional que, para além do presidente do partido, não vê ninguém a tomar as rédeas do controlo de danos de uma situação "gravíssima".
Um membro do Secretariado Nacional confrontado com esta posição antevê à Renascença que os próximos dias possam resolver o paradoxo: "A agenda funciona como rolo compressor. Os atores da sucessão de Costa posicionam-se e começaremos a posicionarmo-nos sobre outras coisas".
A mesma fonte socialista garante a cúpula socialista nunca aceitará "que se transforme o PS numa espécie de associação criminosa".
"Pedronunismo" e "carneirismo". A sucessão em cenário de "catástrofe"
A Comissão Política desta quinta-feira também já poderá dar um sinal de como está o PS, até em termos emocionais. Dirigentes socialistas admitem que será "tensa" de qualquer maneira, com a presença de um secretário-geral do partido em claras dificuldades.
A questão, segundo um dirigente nacional em declarações à Renascença, é se começa já nesta reunião a troca de galhardetes entre as hostes de Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, ambos a prepararem-se para a sucessão de António Costa.
O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, já fez saber que ainda se mantém a "ponderar" se avança ou não para as diretas, mas para os "pedronunistas" já nem é uma questão de ponderação.
Estão a trabalhar a todo o vapor, com um olho nas eleições internas e nas legislativas, estando a decorrer intensos contactos com as distritais e concelhias. Anunciar a candidatura é, por isso, apenas uma questão de tempo.
"Isto é uma catástrofe", admite um "pedronunista" à Renascença, que reconhece que este "é o pior cenário possível para ir para eleições". O trauma do PS com os problemas de justiça ressurgem todos, do processo Casa Pia a José Sócrates.
A mesma fonte socialista nota isso mesmo: "Aconteceu uma vez e virou-se a página". Agora a questão é: "Como é que o Escária tem aquele dinheiro no gabinete?".
A convicção geral é que Pedro Nuno "cilindra" José Luís Carneiro "de Norte a Sul" do país, pese embora os apoios que José Luís Carneiro vem colhendo desde o consulado como secretário-geral adjunto e entre os moderados que não gostam do líder da ala esquerda do PS.
É também nessa ala moderada que o próprio Pedro Nuno Santos estará a trabalhar e que tem como um dos expoentes Francisco Assis, antigo líder parlamentar e atual presidente do Conselho Económico e Social (CES) com quem o ex-ministro almoçou esta semana, numa tentativa de "desmontar a imagem" de esquerda que tem junto de um certo eleitorado.
Assis não avançando para a sucessão de António Costa pode fazer a ponte com uma ala moderada que considera que Pedro Nuno Santos "é prejudicado de várias maneiras e leva com estilhaços".
"Galamba é próximo dele", salienta um membro da Comissão Política à Renascença, embora as relações entre ambos, entretanto, tenham esfriado. A mesma fonte refere o modo como o ex-ministro das Infraestruturas saiu do Governo, "por uma bronca".
São duas alas que estarão presentes esta noite na reunião da Comissão Política desta quinta-feira, sendo certo que Pedro Nuno Santos não estará presente, tendo em conta que renunciou a todos os cargos de direção que tinha e os deputados não foram convocados.