O presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão, acredita que é "necessária" uma remodelação no Governo para "haver um refresh", mas ressalva que isso só vai acontecer quando o primeiro-ministro quiser.
Em entrevista ao Hora da Verdade, programa da Renascença com o jornal Público, o socialista- que diz ser "amigo pessoal" de António Costa- descreve o chefe do executivo como alguém que irá "sempre para a espada" quando estiver entre a espada e a parede.
Sobre as próximas eleições autárquicas, Ricardo Leão revela que é recandidato e acredita que vai ser "muito difícil" tirar Carlos Moedas da Câmara Municipal de Lisboa. Elogia o atual autarca da capital, e diz que Marta Temido seria uma boa adversária.
Estamos a chegar ao final da primeira sessão legislativa. Concorda com o presidente do PS, Carlos César, de que o primeiro-ministro devia remodelar o Governo depois das sucessivas polémicas?
O Governo tem tido virtudes e alguns erros. Sou amigo pessoal do primeiro-ministro e reconheço-lhe uma qualidade política acima da média. O país apresenta resultados economico-financeiros dos melhores que pode haver...
Mas quando diz erros, refere-se ao quê?
Custa-me acreditar como é que o Governo apresenta resultados satisfatórios e depois comete estes erros.
Não aceitar a demissão de João Galamba foi um erro?
Conhecendo o primeiro-ministro como conheço, quando o colocam entre a espada e a parede normalmente ele vai sempre para a espada. Não é pessoa de ir para a parede.
Foi teimosia [não ter feito uma remodelação no Governo]?
Eu acredito numa remodelação. Ela é necessária nalgumas áreas específicas, não por incompetência, mas por necessidade de refrescamento. Mas vai ser na altura em que António Costa entender que é a altura e na altura em que as pessoas ou o Presidente da República querem. Acredito que há de acontecer no momento em que ele entender.
Como está a ver as notícias que dizem que há hipóteses de António Costa vir a ser presidente do Conselho Europeu se ele quiser?
Um misto de agridoce. Doce no sentido em que é bom para o país ver o reconhecimento, por parte da Europa, de um português. A mim orgulha-me. O “agri” tem que ver com o facto de não acreditar que vá. Ele faz falta. O Governo vai depender de muita coisa, mas em especial da execução do PRR.
Temos que aproveitar esta oportunidade de solidariedade porque nunca mais vai haver mais nenhuma como esta. Com Costa ou sem Costa, se acabarmos 2026 com uma baixa taxa de execução dos fundos europeus os portugueses não vão perdoar o PS pela incompetência. Aí, vai ser um processo muito complicado de perda de credibilidade do próprio PS.
Falava da execução do PRR. Vai recandidatar-se nas próximas autárquicas, para também continuar envolvido na execução desses fundos [até 2026]?
Claro que sim. Isso nem sequer é questão, se tiver saúde, como é óbvio. Este é o meu concelho, vivi sempre aqui, a minha vida tem sido sempre em Loures. Ser autarca em Loures é um sonho que está a ser realizado.
Não tem receio que a Câmara de Loures volte para as mãos do PCP?
Não tenho receio. Todos os dias trabalho, não por essa reeleição, mas para cumprir com aquilo que me comprometi. Acordo todos os dias com a mente nisso. Tive algum azar com as cheias [de dezembro de 2022], as despesas da JMJ, inflação, etc.
Estou plenamente convicto de que vou conseguir essa reeleição. Se há receio é o de o concelho voltar para o PCP e ter mais oito anos de atraso.
E nessa altura, para o concelho vizinho, Marta Temido é um bom nome para a Câmara de Lisboa?
Eu tenho uma relação de trabalho excecional com Carlos Moedas. Ele tem uma capacidade de rua grande. Desenganem-se se pensam que ele fica fechado no gabinete. Vai ser difícil com Marta Temido ou sem Marta Temido. Eu vejo-o agora com grande entusiasmo e isso é muito bom, é o principal. A Marta Temido teve e tem um papel muito importante neste país, manteve um nível de credibilidade muito alto, sobretudo nos idosos, e isso não é de desperdiçar.
E vê-a com entusiasmo para ser candidata?
Vejo-a com entusiasmo e com vontade. Isso é bom e é o principal. Se temos uma pessoa como a Marta Temido, com a credibilidade que tem ainda, é um nome bom. É difícil, mas não é impossível. Quando me candidatei também me disseram que era impossível vencer o Bernardino Soares. Tem tudo a ver com trabalho, e ela tem essa capacidade ao cubo.
[Esta é a terceira parte da entrevista a Ricardo Leão. Pode ler a primeira aqui, onde o autarca de Loures critica o ministro da Saúde sobre as promessas que fez em relação ao Hospital Beatriz Ângelo. E pode ler a segunda parte clicando aqui, onde Ricardo Leão se assume "preocupado" com os atrasos na divulgação do plano de mobilidade para a JMJ]