Os atentados de quinta-feira em Cabul, a capital afegã, causaram a morte a pelo menos 13 militares norte-americanos e mais de 90 civis afegãos. Foram reivindicados pelo ISIS-K, sigla em inglês para Estado Islâmico da Província de Khorasan.
A reivindicação oficial chegou no próprio dia (26 de agosto), com o grupo a congratular-se por o suicida ter conseguido chegar a cinco metros das forças norte-americanas.
Afinal, quem são os radicais islâmicos do ISIS-K?
São um braço regional do Estado Islâmico, conhecido pela sigla ISIS, que atua sobretudo no Afeganistão e no Paquistão.
Pouco depois de o ISIS ter proclamado um “califado” no Iraque e na Síria, em 2014, ex-membros dos talibãs do Paquistão declararam lealdade ao líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi, que foi morto em finais de 2019 durante uma operação conduzida pelos Estados Unidos no norte da Síria.
A eles juntaram-se afegãos desiludidos com os talibãs, que desertaram. No início de 2015, o ISIS reconheceu oficialmente a criação da província de Khorasan – o nome antigamente dado a uma região que englobava as províncias no Leste da Pérsia, incluindo partes dos atuais Afeganistão, Paquistão, Irão e Ásia Central (incluindo Turquemenistão, Tajiquistão e Usbequistão).
Em 2015, o ISIS-K estabeleceu-se no distrito montanhoso de Achin, na província oriental de Nangahrar, a única onde conseguiu de facto estabelecer-se de forma permanente.
É agora o mais violento e extremista de todos os grupos militantes jihadistas na região. Durante os primeiros quatro meses de 2021, a missão de assistência da ONU no Afeganistão registou 77 ataques levados a cabo pelo grupo.
Radicais extremistas. Quão extremistas?
Bastante. O ISIS-K foi responsabilizado por algumas das piores atrocidades dos últimos anos na região.
Em 2019, atacaram um salão de festas em Cabul, onde decorria um casamento – um atentado à bomba que provocou 63 mortos e 180 feridos.
Há também relatos de ataques bombistas a escolas femininas, hospitais e até numa maternidade.
E, ao contrário dos talibãs, cujo interesse está mais restrito ao Afeganistão, o ISIS-K faz parte da rede global do Estado Islâmico que tem como objetivo realizar ataques contra alvos identificados como ocidentais e humanitários.
Têm ligações com os talibãs?
Não diretamente, mas têm através de uma terceira organização – a rede Haqqani – que está intimamente ligada ao movimento talibã. A confirmar esta relação está o sobrenome do homem responsável, nos talibãs, pela segurança de Cabul: Khalil Haqqani, que será o líder desta rede.
Existe ainda outra ligação, ainda que menos abonatória: o ISIS-K recruta jihadistas afegãos e paquistaneses, especialmente desertores dos talibãs (que acusam ser um grupo de liberais perigosos) que não consideram ser suficientemente extremistas. E acusam os talibãs de abandonar a Jihad e o campo de batalha a favor de um acordo de paz negociado em 2020 com os Estados Unidos em “hotéis chiques” de Doha, no Qatar.
Quando os talibãs entraram em Cabul, não os felicitaram, ao contrário de outros grupos terroristas.
E há mais razões para o mau relacionamento com os talibãs?
Há. Apesar de serem ambos grupos radicais sunitas, têm diferenças teológicas e de estratégia, apesar de ambos reclamarem a incorporação do espírito da Jihad – a guerra santa.
Outra razão: a repressão dos talibãs tem impedido a expansão do ISIS-K no Afeganistão, ao contrário do que o Estado Islâmico (também conhecido como Daesh) conseguiu fazer no Iraque e na Síria.
Não se expandiram, mas disseminaram-se através de células adormecidas em várias cidades afegãs.
Onde estão localizados os elementos do ISIS-K?
A base estará na província de Nangahrar, no Leste do Afeganistão, perto das rotas de tráfico de pessoas e drogas para o Paquistão, logo do outro lado da fronteira. No seu auge, este grupo contava com cerca de três mil combatentes, mas sofreu baixas significativas em confrontos com militares norte-americanos, afegãos e com os próprios talibãs.
Nas fileiras do ISIS-K estão afegãos, paquistaneses, tadjiques e uzbeques.
Quando os talibãs tomaram Cabul, a 15 de agosto, um grande número de detidos foi libertado da prisão de Pul-e-Charki. De acordo com relatos, alguns deles eram militantes do Estado Islâmico e estão agora à solta.
Quem comanda estes homens?
De acordo com um relatório apresentado em julho ao Conselho de Segurança da ONU, na liderança do ISIS-K estará Shahab al Muhajir, conhecido por Sanaullah.
É um jihadista e especula-se que será um árabe vindo de fora, possivelmente da Síria ou do Iraque. De facto, a palavra “Muhajir” costuma ser traduzida como imigrante ou estrangeiro.
Ainda de acordo com esse relatório, antes de chegar ao comando do ISIS-K, al Muhajir terá sido o cérebro de ataques relevantes em Cabul e noutras áreas urbanas.
Como outros membros do grupo, Al Muhajir terá ganhado experiência na rede Haqqani e terá subido na organização depois do duro golpe sofrido pela cúpula daquela organização, em junho do ano passado, quando uma operação militar das forças especiais afegãs eliminou a liderança da altura.
O fundador do grupo, Hafiz Saeed Khan, foi morto pelos EUA em 2016.