“A negociação acabou por não ser bem-sucedida”, começa por explicar Elísio Summavielle. O presidente do conselho de administração do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, admite assim que o único candidato que concorreu ao concurso internacional para as obras de alargamento do CCB “desistiu”.
Em resposta a uma pergunta da Renascença, na conferência de imprensa de apresentação da nova Temporada do CCB, Summavielle explicou que estavam em fase de negociação “quando caiu a pandemia”, o que fez com que “o procedimento acabasse por não resultar, por desistência do candidato”.
Summavielle escuda-se na “conjuntura de pandemia e crise”, para explicar este falhanço nas negociações. Lembra que o concurso internacional tinha sido lançado num contexto “de franco expansionismo económico de 2018-2019”, e considera “natural” que o processo tenha ido ao fundo.
Agora, acrescenta o responsável do CCB, será relançado o processo. Mas desta vez, não haverá concurso internacional. O procedimento será “por ajuste direto, e convites a entidades e promotores”, explicou Summavielle.
“Atraso de quase dois anos”
Na conferência de imprensa, o presidente do CCB esclareceu ainda que, entretanto, caducou o necessário Pedido de Informação Prévia que tinha sido feito quer à autarquia de Lisboa, quer à Direção-Geral do Património Cultural. Já foi feito novo pedido, aguardam-se agora os tramites.
Dado este contratempo, com a desistência do único candidato, Elísio Summavielle fala já num “atraso de quase dois anos”, numa obra de alargamento que elegeu como uma das suas prioridades quando chegou ao Centro Cultural de Belém em 2016, por nomeação do então ministro da Cultura, João Soares.
Em causa na construção do hotel de luxo e das novas áreas comerciais e de escritórios, está também um rendimento para o CCB. A partir do momento em que a obra seja adjudicada, aquela instituição cultural começará a receber uma renda anual que aumentará, uma vez que esteja concluída a obra.
O aumento da receita é essencial também para financiar a atividade cultural do CCB, explicou Summavielle. “A nossa programação cultural depende da atividade comercial”, sublinhou o presidente que admitiu a dificuldade de tesouraria, neste último ano.
“Felizmente, em boa hora, tivemos a presidência europeia durante oito meses aqui no Módulo 1. Não fora isso, teríamos sérias dificuldades em assegurar a própria estrutura do CCB e o universo laboral que são 151 funcionários”, explicou o presidente.
Interrogado ainda quanto a uma previsão para o lançar das obras de expansão do edifício, Elísio Summavielle elencou ainda vários procedimentos que terão primeiro de ser feitos, entre eles, além do licenciamento, as sondagens arqueológicas. Diz que só um ano depois do licenciamento é que as obras poderão avançar. Já quanto aos convites diz que deverão começar a ser feitos a partir de outubro do próximo ano.
Summavielle deixa o CCB
Antes disso, Summavielle deixa o CCB. Já o tinha avançado ao Jornal de Mafra, a vila onde já foi candidato autárquico. O presidente do CCB confirmou na conferência de imprensa que já informou o Ministério da Cultura. “Tive a atenção e o dever de informar a minha tutela da minha intenção. Em março do ano que vem darei por fim o meu mandato à frente desta excelente instituição.”
Summavielle já trilha a despedida. “No momento em que as coisas estão arrumadas, estáveis e a evoluir, eu não gosto de ficar à sombra da bananeira, tenho tendência a procurar novos projetos. E isto aos 65 anos de idade, nós fazemos contas e o tempo de vida útil é sagrado. Quero fazer outras coisas. Ao fim de 41 anos de serviço público acho que tenho esse direito e é a minha liberdade que está em causa”, diz o presidente do CCB que fala noutra “fase da vida” e conclui que sai sem “pedras no sapato” e com a “continuidade assegurada”.
De saída do CCB terá ainda de passar a pasta ao seu sucessor na gestão da Coleção Berardo. É que Elísio Summavielle é o “fiel depositário” deste acervo, por designação do tribunal que julga o caso Berardo.
Questionado sobre o processo e o futuro da coleção, Summavielle refere que não pode, nem deve se pronunciar sobre o caso. Lembrou que o processo está em marcha, mas esclareceu: “Tenho o dever de informar mensalmente o tribunal sobre tudo. A equipa do museu tem respondido muito positivamente, portanto, oxalá assim continue, até vir um desfecho”.
Sem querer dar mais explicações, Summavielle terminou com a enigmática frase que “todas as equações estão em cima da mesa” e concluiu apenas que “a coleção é de altíssimo interesse nacional e europeu”.