Esta quarta-feira assinala-se o Dia Internacional da Criança com Cancro e a Associação Acreditar, que presta apoio a famílias, diz haver um aumento de pedidos de auxílio.
"Há cada vez mais pedidos e os valores são maiores, inclusive o apoio alimentar", revela a diretora-geral da associação Margarida Cruz, em entrevista à Renascença.
"Estamos preocupados porque vemos que as famílias estão a sofrer mais dificuldades", relata.
Neste sentido, a Associação Acreditar defende que a baixa para acompanhamento do filho com cancro paga a 100% seria a solução ideal e, por isso, pretende "sensibilizar os decisores políticos para que, pelo menos, estes pais tenham comparticipações na ordem dos 100%", para que possam fazer face às dificuldades agravadas com o agravamento da inflação.
Os tratamentos de oncologia pediátrica em Portugal são realizados nos grandes centros urbanos de Lisboa, Porto e Coimbra, o que obriga as famílias a deslocarem-se e a gastarem verbas muito elevadas que, muitas vezes, não têm. Margarida Cruz explica que "há um acréscimo de despesas que acresce às dificuldades normais que têm as pessoas na sociedade portuguesa".
Quem viveu estas difuldades conta na primeira pessoa à Renascença as complicações que enfrentou para conseguir obter os tratamentos necessários.
A família de Marisol Gouveia, em 2020, teve de deixar durante meses a casa na Madeira por causa da doença rara do filho. O transplante de medula só podia ser feito em Lisboa, para onde tiverem de se mudar os quatro elementos da família. "Na altura, a nossa outra filha tinha quatro meses".
Se não fosse a ajuda da Associação Acreditar, relembra Marisol, não tinham conseguido fazer os tratamentos do filho. "Felizmente tivemos essa hipótese porque, se não fosse isso, penso que tinha sido muito mais complicado, porque, entretanto, surgiu a pandemia e tivemos de ficar os quatro a viver em Lisboa".
"Eu já não trabalhava há muito tempo, desde que o meu filho nasceu, por causa do problema de saúde dele. O pai deixou de trabalhar para irmos para Lisboa", conta.
Atualmente, o filho de Marisol continua a ser acompanhado, após o transplante.
"A Acreditar continua a receber-nos e isso é muito importante. Nós continuamos dentro daquele sistema, dentro daquele ambiente e, para as próprias crianças, é voltar à base. Ninguém imagina a importância que esta casa tem", realça.
Em Portugal, há cerca de 400 novos diagnósticos por ano de cancro pediátrico. Continua a ser esta a causa de morte por doença mais frequente em crianças e adolescentes.