A antiga embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, criticou diretamente Donald Trump pela forma como incitou a revolta dos apoiantes que invadiram o Capitólio no passado dia 6 de janeiro.
Numa longa entrevista à revista ‘Politico’, a diplomata filiada no Partido Republicano reagiu com deceção aos acontecimentos cuja autoria moral é atribuída ao antigo Presidente dos EUA.
"Temos que reconhecer que ele nos dececionou”, afirmou Haley na entrevista publicada esta sexta-feira.
“Não devíamos ter-lhe dado ouvidos, porque ele percorreu um caminho que não deveria ter percorrido e não podemos deixar que isto volte a acontecer”, acrescentou.
Nikki Haley serviu, entre 2017 e 2018, como Representante Permanente dos EUA junto das Nações Unidas, missão após a qual se retirou da administração Trump com uma aparente boa relação com o seu ex-superior hierárquico, ao contrário do que aconteceu com outros altos funcionários da Casa Branca, cujas desavenças com o antigo Presidente ecoaram na praça pública.
Contudo, neste artigo do ‘Politico’, Nikki Haley não esconde a sua profunda discordância pela forma como Donald Trump reagiu aos resultados eleitorais, embora admita que, “genuinamente, na sua essência, ele entenda que foi injustiçado” e que, por isso, toda a desinformação que espalhou, tanto através do Twitter, como no discurso em que apelou à mobilização dos seus apoiantes tenha resultado do facto de que “ele acreditava” que, de facto, existiu uma fraude.
“A pessoa com quem trabalhei não é a mesma pessoa que observei desde a eleição, nunca pensei que ele fosse cair numa espiral deste género", constata a diplomata que diz não ter voltado a falar com Donald desde os acontecimentos no Capitólio, sendo que a última vez que ambos conversaram foi em dezembro, logo após a confirmação de que Joe Biden tinha ganho as presidenciais.
Por outro lado, Nikki Haley condenou Donald Trump pela forma como atacou no Twitter o seu vice-presidente da altura, Mike Pence, por estar no cumprimento do seu dever de presidir à contagem dos votos do Colégio Eleitoral, função que lhe valeu ameaças de morte por parte de vários apoiantes do antigo Presidente que participaram no cerco ao Capitólio.
"Mike foi sempre leal e um bom amigo [de Trump] e estou muito dececionada por ver que, apesar de tudo isso, o Presidente não hesitou em sujeitá-lo a esta situação… sinto-me enojada”, disse Haley.
Questionada sobre o processo de destituição que arrancou, de facto, na passada quarta-feira, após a aferição da constitucionalidade do julgamento de Trump, a antiga representante diplomática dos EUA nas Nações Unidas classificou o processo como “uma perda de tempo", dado que a destituição do cargo requer uma maioria de dois terços do Senado e a maioria dos republicanos já deu a entender que vai votar no sentido da absolvição de Donald Trump.
Pode, contudo, acontecer que o Senado considere votar o impedimento no sentido de o antigo Presidente poder servir em cargos públicos, o que poderia afastá-lo da corrida eleitoral de 2024.
Seja como for, Nikki Haley acredita que Donald Trump está “cada vez mais isolado” e que dificilmente terá futuro dentro do Partido Republicano”.
“Ele não vai estar na fotografia… foi longe demais”, concluiu.