A “pastoral ideológica” de esquerda ou de direita “é inútil e prejudica os jovens”, alerta o Papa Francisco, em entrevista à revista espanhola “Vida Nueva”.
Francisco, de 86 anos, mostra-se atento e preocupado com as novas gerações. Considera que a Igreja Católica não pode “afugentar” os jovens e diz mesmo que receia grupos de intelectuais “que chamam os jovens para refletir e depois os enchem de ideias estranhas”.
“No momento, grupos ligados de alguma forma a ideologias de direita são talvez os mais perigosos. Os movimentos mais inclinados para a esquerda, dada a situação mundial, diminuíram um pouco. Em um caso e em outro, eles usam os jovens para sua ideologia, e isso não funciona. Nos grupos juvenis, você deve deixar que os próprios jovens se expressem”, alerta em entrevista à revista “Vida Nueva”.
Francisco considera que, mais do que julgar ou ditar regras estritas, é preciso plantar a semente no coração dos jovens.
O Papa dá um exemplo da sua terra natal, a Argentina. Em Buenos Aires decorre “ uma experiência que foi muito importante”, as “Noites de Caridade”, em que os voluntários saem para a rua para alimentar as pessoas sem-abrigo.
“Fazem-no sobretudo as freguesias do centro. Eles leram um fragmento do Evangelho antes de partir e o povo começou a fazer uma oração de cerca de cinco minutos. Os rapazes aderiram de imediato à iniciativa”, conta o Santo Padre.
O Papa prossegue que um dia encontrou-se com um padre local que lhe disse que “projeto era uma perda de tempo, porque depois de rezar e ajudar os pobres, os meninos iam dormir uns com os outros”.
“Eu disse para ele deixar de se intrometer nesses assuntos. Os jovens devem ser deixados para seguir com suas vidas. Não estou interessado em focar no que eles fazem depois, estou interessado no que eles fazem agora”, defende Francisco.
O Papa considera que se os jovens forem “educados para que se comprometam com os pobres, isso é uma semente para o futuro e isso influenciará todo o resto”.
O Santo Padre diz que “apostar nos jovens é um caminho lento”, mas é “errado” colocar a “perspetiva moral” como prioridade única.
“Se você reunir um grupo de jovens que não tem nada a ver com a Igreja e os reunir para algo que chame a atenção e que eles gostem, você os aproxima de Jesus e do Evangelho. Mas se você só fala sobre castidade, você afugenta a todos”, sublinha.
Por isso, uma “pastoral ideológica da esquerda ou da direita ou do centro que não serve para nada, já está doente desde o início e fere os jovens”.
Com as novas gerações é preciso utilizar a “linguagem das mãos, porque os jovens precisam fazer, e a linguagem das pernas, que é andar. Um laboratório asséptico de apostolado juvenil não funciona”, remata Francisco.