No primeiro semestre deste ano, as urgências dos hospitais portugueses registaram 3,2 milhões de atendimentos, mais 134 mil do que em igual período de 2015. Nos hospitais da Grande Lisboa, quase metade dos atendimentos (46,6%) são consideradas "falsas" urgências, o valor mais alto das cinco regiões de saúde do país. Os dados da Administração Central do Sistema de Saúde são divulgados esta quinta-feira pelo “Diário de Notícias”.
Dos 13 hospitais da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa, cinco viram aumentado o número das "falsas" urgências (pulseiras verdes, azuis e brancas). Entre eles estão o Centro Hospitalar de Lisboa Norte de Loures e o Garcia de Orta.
A Grande Lisboa é o caso mais flagrante, mas o recurso às urgências com casos não urgentes aumentou em 22 hospitais do país.
No Norte, a situação é menos acentuada, mas não está livre de problemas: três unidades de saúde integram o “top 8” das pulseiras verdes, azuis e brancas. São elas o caso do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim, Santa Maria Maior e Hospital Senhora da Oliveira.
Portugal é um dos países da OCDE com maior volume de idas às urgências.
"Falta de respostas", mais do que desconhecimento
A presidente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), Marta Temido, aponta a falta de respostas existente por parte das unidades de saúde como origem do problema.
“Penso que há um misto e esse misto, nalgumas regiões, será mais falta de respostas do que a questão de os utentes não terem conhecimento. Sabemos que Lisboa tem de facto falta de respostas. Conseguimos agora a colocação de um conjunto de novos médicos de família na zona da ARSLVT, mas é algo que ainda está em processo de montagem e implementação efectiva”, afirma à Renascença.
Marta Temido analisa ainda que, “nesta área geográfica, há uma concentração de população e de hospitais que levam a que a população, por razões culturais, se dirija ao serviço de urgência em vez de se dirigir aos cuidados de saúde primários”.
Certo é que “os números não estão a acompanhar aquilo que era o objectivo”, que era reduzir em 10% as urgências hospitalares, poupando assim 48 milhões de euros por ano.
A presidente da ACSS mostra-se, contudo, esperançada de que as medidas já tomadas pelo Governo possam inverter a tendência. “Há, decorrente do último concurso de colocação de médicos de medicina geral e familiar e da atribuição de mais médicos de família aos portugueses, uma expectativa de que algumas destas situações venham a ser corrigidas no curto prazo”, destaca.
"É abusivo e culpa os doentes"
Ao DN, o presidente da Associação dos Médicos de Família lembra que 20% da população lisboeta não tem médico de família e que que faltam 400 médicos na área de Lisboa e Vale do Tejo.
Também ouvido pelo jornal, o bastonário da Ordem dos Médicos critica falar-se em "falsas urgências", pois coloca o ónus no doente. “É abusivo e culpa os doentes”, afirma José Manuel Silva, dado que “as pessoas não têm capacidade para avaliar a sua situação”. É a triagem de Manchester "que define prioridades e não urgências", sublinha.
[Notícia corrigida às 15h33]