Impulsionada por Macron, a ajuda internacional de emergência ao Líbano angariou 250 milhões de dólares. Mais apoios, desta vez a longo prazo, dependerão da forma como se comportar o poder político libanês.
Só que não existe, verdadeiramente, um poder político libanês. A ajuda externa de emergência – alimentos, auxílio humanitário, medicamentos, equipas de busca e ajuda médica, casas para cerca de 300 mil que ficaram sem abrigo, etc. – ainda poderá ser entregue diretamente à população, embora com enormes riscos de desvios fraudulentos.
Mas o auxílio financeiro à reconstrução económica e financeira do Líbano, que atravessa agora uma grave crise, incluindo uma bancarrota governamental, terá de passar por entidades estatais.
Poderá apontar-se a ONU para tal função, mas provavelmente tal não será aceite pelo que resta de autoridades no Líbano.
Não é um indício favorável a recusa do Presidente do país e do líder do Hamas (uma força militar, religiosa e política muito ativa no Líbano) quanto a uma investigação internacional às causas da gigantesca explosão em Beirute. Dizem que iria ferir a soberania do Líbano, como se tal coisa tem ali, atualmente, algum significado concreto.
Este país, tornado independente em 1943, gozou nas primeiras décadas de um clima de paz – era a “Suíça do Médio Oriente”. A Constituição libanesa indicava que o Presidente deveria ser cristão, o primeiro-ministro muçulmano sunita e o porta-voz parlamentar muçulmano xiita. Não se vê como poderia esta diversificada gente entender-se para governar o país – por isso decidiram sobretudo governar-se, levando a corrupção a níveis estratosféricos. E a enorme diversidade religiosa e política da sua população não aguentou manter-se em paz no séc. XXI.
Do exterior também veio a guerra. De Israel, em 2006, conflito que depois descambou em guerra civil; e do movimento terrorista Hamas, xiita, dirigido e financiado a partir do Islão, e que dispõe de significativo poder político e militar no Líbano.
Este país também acolhe milhões de refugiados, desde palestinianos, quando Israel foi aceite pela ONU como Estado, até, mais recentemente, aos refugiados sírios que fogem da sangrenta e interminável guerra civil na Síria.
Os libaneses protestam furiosamente nas ruas contra os seus políticos. Têm toda a razão, desde logo quanto à incúria (se não foi mais do que isso) de manter aquele material fertilizante, mas também explosivo em condições inaceitáveis, apesar dos sucessivos avisos e chamadas de atenção às autoridades.
A tragédia, agora, é como criar algo parecido com um Estado a partir dessa contestação, tendo em conta a extrema diversidade política e religiosa dos libaneses.