A Ordem dos Enfermeiros (OE) manifestou esta segunda-feira “séria preocupação” com a ausência de medidas adicionais para acautelar o impacto de uma segunda vaga de Covid-19 nos lares, tendo já pedido uma audiência urgente ao Governo.
“Estamos seriamente preocupados com a ausência de um planeamento adequado, que poderá ter consequências gravíssimas no contexto da segunda vaga da pandemia”, que se espera no próximo inverno, afirma em comunicado o vice-presidente da OE, Luís Filipe Barreira.
A Ordem dos Enfermeiros adianta que “a ausência de medidas adicionais” para acautelar a situação nas Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI) levou a que solicitasse “audiências urgentes” à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e ao secretário de Estado da Saúde.
“Em termos gerais, é preciso avançar rapidamente para um modelo integrador, com tutela conjunta da Segurança Social e da Saúde, bem como uma rede de coordenação a nível nacional, regional e local destinada à prevenção, controlo e monitorização de infeções e de resistência aos antimicrobianos, à semelhança da existente nos diferentes níveis de prestação de cuidados”, defende no comunicado.
A OE refere que, com “a aproximação do Inverno, poderá não haver tempo para alterações de fundo, e por isso é “absolutamente necessário a implementação de medidas que tenham em consideração a falta crónica de enfermeiros nas ERPI, a quem deveria ser atribuída a responsabilidade de gerir e executar os respetivos planos de contingência, reportando diretamente às autoridades de saúde”.
Lembra que as pessoas idosas internadas em lares apresentam uma maior necessidade de cuidados de saúde diferenciados e permanentes: “são altamente vulneráveis e o principal grupo de risco, como ficou, aliás, demonstrado pelas sucessivas tragédias ocorridas em instituições de todo o país”.
Apesar dos lares estarem preparadas para respostas, maioritariamente, de natureza social, “é urgente uma solução que inclua também respostas adequadas às necessidades crescentes de cuidados de saúde, ao nível da efetiva prestação de cuidados e da gestão”, defende ainda.
“As pessoas idosas não são cidadãos de segunda e têm direito a cuidados de saúde seguros e adequados às suas características e necessidades específicas, independentemente da situação em que se encontrem, o que não tem sido acautelado, como mostram os problemas e fragilidades que ficaram mais visíveis com a pandemia”, salienta a OE, observando que esta população apresenta um conjunto de fatores de risco.
No último relatório da OCDE, Portugal apresenta a taxa mais elevada de prevalência de úlceras de pressão, quase o dobro da média dos países da OCDE, sendo também o pior país em percentagem de infeções por bactérias resistentes a antimicrobianos, o que se deve, principalmente, à extrema carência de cuidados de enfermagem nas ERPI, sublinha.
“As ERPI são hoje espaços que deveriam prestar cuidados de saúde e cumprir escrupulosamente a lei, o que não acontece”, lamenta Luís Filipe Barreira, defendendo que também é necessário “um combate efetivo às instituições ilegais”, que não pode ser tolerado “apenas por falta de alternativas”.
Portugal contabiliza pelo menos 1.722 mortos associados à Covid-19 em 50.410 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).