Quando, na década de 80 do século passado, o diplomata Fernando Neves entregou ao Reino Unido a carta com o pedido de adesão de Portugal à então CEE (Comunidade Económica Europeia), não imaginava que, volvidos mais de 30 anos, esse mesmo país estivesse prestes a deixar o bloco europeu.
À Renascença, o embaixador mostra-se crítico do Brexit e considera que só há uma saída.
“A minha opinião desde o início deste processo, que é um processo absolutamente desastroso, é que a única solução sensata para esta questão do Reino Unido é a repetição do referendo”, afirmou.
“Há muita gente que diz que nunca repetirão o referendo, mas só para a Escócia fizeram três”, recordou, acrescentando que, contudo, talvez já tenha havido “mais condições para [o segundo referendo] ser a solução”.
“Eu penso que não há, neste momento, nenhuma saída sensata”, conclui, considerando que o melhor que o Reino Unido tinha a fazer agora era esperar “para, pelo menos, pensarem no que estão a fazer”.
“A sensação que eu tenho é que o Reino Unido partiu para esta aventura sem ter uma estratégia, sem ter uma ideia do que ia acontecer e com a convicção de que o continente estava bloqueado com ‘mau tempo’ – ou seja, o Reino Unido sai para aqui a achar que chegava lá, ia comer a fatia do bolo e ficar com o bolo”, resume.
Na semana passada, a primeira-ministra britânica sofreu mais uma derrota ao ver chumbada no Parlamento a nova estratégia para o Brexit.
Os britânicos e os próprios deputados do Reino Unido mostram-se muito divididos quanto à saída do país da União Europeia. Para já, a data definida para a separação é 29 de março.
Bastidores da diplomacia “noutros tempos”
Durante a conversa no programa As Três da Manhã, o embaixador Fernando Neves contou diversos episódios que viveu nos vários palcos de negociação.
“O ministro sozinho pode dizer coisas que não pode dizer se estiver duas pessoas da delegação dele ao pé. As pessoas não têm noção disso. A ideia da transparência nas negociações diplomáticas levaria a um estado constante de guerra entre todos os países”, revela.
“Hoje, sobretudo, os almoços são os momentos importantes e, ao contrário das reuniões, duram mais do que se pensa”, acrescenta.
Fernando Neves recorda ainda quando as negociações na Comunidade Europeia eram a 12, o que levava as reuniões a durarem até altas horas da madrugada, mas na maior parte das vezes acompanhadas de boa bebida.