Mónica Dias, vice-diretora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, disse nesta terça-feira que "se a Ucrânia cair, a guerra será muito mais terrível".
Em entrevista exclusiva à Renascença, à margem do 34.º encontro da Pastoral Social, a antiga assessora da Comissão de Educação, Ciência e Cultura na Assembleia da República elogiou o papel das instituições internacionais e do Papa Francisco e incentivou os cidadãos portugueses a ajudarem "o lado da História onde se defende os princípios da verdadeira paz".
Que perspetiva tem de um final da guerra na Ucrânia? É um horizonte ainda muito longínquo?
Parece-me que sim. A situação é muito, muito difícil porque há, de ambos os lados, perspetivas muito diferentes. Em primeiro lugar, não esquecer que isto é uma guerra de invasão, de agressão. Obviamente que a narrativa neste momento de Vladimir Putin não é essa. Ele tem um desejo de fazer deste território (Ucrânia) tábua rasa e integrá-lo na Rússia. E é aí que começa a impossibilidade de se conseguir, no curto prazo, uma paz. Porque esta seria uma paz imposta e que, aliás, levaria a que, daqui a talvez dois ou três anos, houvesse depois outra tentativa de mais apropriação de terreno ucraniano.
Portanto, não há aqui base de confiança nenhuma, não há base legal, não há base de direito internacional e não há base política. Do lado da Ucrânia, neste momento, os ucranianos (e não só o governo, mas a população também) têm quatro revindicações.
A primeira condição sine qua non é a reposição do território da Ucrânia, incluindo a Crimeia. Em segundo lugar, reparações para os danos de guerra. As cidades ucranianas ficaram destruídas. É preciso um plano geral para a reconstrução e será muito caro.
Em terceiro lugar, tem que haver uma justiça. Falam os ucranianos num tribunal ad hoc para julgar os crimes de guerra cometidos. E em quarto lugar, é uma mudança de regime na Rússia. Isto, obviamente, é o mais difícil, porque Putin não acredita na nação ucraniana e, portanto, a Rússia perdeu toda a base de confiança que existia, já não é um parceiro económico fiável e, portanto, neste momento, não é possível ainda começar uma ronda sustentável de negociações.
O Ocidente tem de estar unido e as famílias no Ocidente têm de ser capazes de fazer sacrifícios e ser solidárias com a Ucrânia, porque, se a Ucrânia cai, a guerra vai continuar e de forma muito mais terrível.
Ainda é real o perigo de uma verdadeira guerra mundial?
Sim. Temos de ser muito, muito prudentes. Temos de estar unidos, temos de saber qual é o lado da História onde se defende os princípios da verdadeira paz.
Com esta guerra na Ucrânia, vamos ter de poupar energia, temos de poupar água, alimentos. E ajudar muitas destas organizações. Ajudar refugiados que vivem em Portugal.
Pode ser com roupa, pode ser com medicamentos, a dar aulas de português, a dar aulas de inglês a jovens refugiados a viver em Portugal.
Já aqui falou de algumas organizações internacionais. Refiro-me agora, em concreto, por exemplo, à União Europeia e à própria ONU. Parece-lhe que têm feito tudo aquilo que está ao seu alcance para travar a guerra?
Eu acho que estão, de facto, a fazer tudo o que, neste momento, é possível, porque as organizações internacionais são organizações intergovernamentais, não são organizações supranacionais, portanto, só podem fazer aquilo que os estados permitem fazer.
Gostaria de chamar atenção também para o papel incrível que o Papa Francisco tem tido. O que realmente interessa é o trabalho que, todos os dias, é feito no terreno.
É assim que se conquista a paz.