O presidente demissionário do Governo da Madeira (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, classificou esta sexta-feira de "bizarra" a situação que provocou a queda do Governo de maioria absoluta do PS e sublinhou que potencia o crescimento do extremismo.
"Toda a gente já percebeu, ou pelo menos a maioria das pessoas com alguma lucidez percebeu uma coisa que foi óbvia, é que esta situação não pode continuar. Você tem um primeiro-ministro de um Governo de maioria absoluta em que o Governo cai e ninguém sabe qual é o motivo por que caiu até hoje", disse.
Miguel Albuquerque, que falava à margem de uma visita a uma empresa, no Funchal, reagia deste modo ao facto de o ex-primeiro-ministro António Costa ter considerado que a "ocasião fez a decisão" (de o Presidente da República pôr termo "prematuramente" à anterior legislatura) e que a direita andava frenética em busca de pretexto para a dissolução do parlamento.
Esta interpretação dos acontecimentos que levaram Marcelo Rebelo de Sousa a convocar eleições antecipadas consta do prefácio escrito em 15 de março passado por António Costa para um livro da autoria do ex-presidente do Grupo Parlamentar do PS Eurico Brilhante Dias, intitulado "Palavras escritas".
Numa alusão indireta à investigação judicial denominada Operação Influencer, que conduziu em 7 de novembro do ano passado à sua demissão das funções de primeiro-ministro, António Costa assinala que nunca se saberá "como seria o futuro se o passado tivesse sido outro".
O presidente do Governo da Madeira, que também caiu na sequência de um processo que investiga suspeitas de corrupção no arquipélago, alerta para o crescimento de extremismos face a situações como a que envolve o ex-primeiro ministro.
"A situação é bizarra do ponto de vista da separação de poderes e tudo isto leva ao aumento do extremismo e leva a que os partidos antissistema, os partidos que vivem da contestação e do protesto, tenham um crescimento, porque não é só o problema da judicialização da política, é a junção da judicialização com a mediatização", disse.
Miguel Albuquerque alerta, por isso, para o perigo de o regime e o Estado de direito democrático entrarem em "disfuncionalidade".
"Tem de haver alguém que tome posição sobre esta questão", afirmou, para logo reforçar: "Ninguém percebeu, ou consegue perceber, porque é que isto se passou e, sobretudo, o [ex] primeiro-ministro ainda não foi ouvido, já passaram meses".