José Albino Silva Peneda, antigo ministro do Emprego e da Segurança Social, considera que "a nossa sociedade não trata muito bem os idosos".
O antigo governante aponta que a situação decorre, desde logo, da "forma como a administração pública e o Estado estão organizados".
Silva Peneda diz que, por vezes, o idoso é visto como "um cliente da segurança social" e noutras situações como "um cliente dos serviços de saúde" e que “há uma ausência clara de coordenação entre a Segurança Social e a Saúde”.
"O idoso devia ser o centro das atenções e não andar espartilhado por diversos departamentos”, sintetiza.
Silva Peneda sublinha que esta falta de articulação foi muito visível na gestão da pandemia, tendo valido aí a resposta do sector social: "As instituições de caracter social, que não o Estado, responderam muito bem."
“Os dados que eu tenho, quando se compara com outros países da Europa, dizem os efeitos da pandemia nos lares em Portugal foram muito menores do que aquilo que aconteceu na maior parte dos países da Europa”, sustenta
Ainda assim, o antigo governante reconhece que “muitos idosos sentiram-se abandonados" durante a pandemia, porque “na nossa sociedade também há gente mal-formada”.
Ainda assim Silva Peneda afirma que “não se pode generalizar juízos” e sublinha que “muitos tinham vontade de ir visitar os seus idosos, mas não podiam ir porque a lei e o medo de contacto não o permitiam”.
Silva Peneda diz que "despejar o idoso nos lares de terceira idade é algo de desumano", porque “tanto quanto possível, ele deve estar no seu habitat natural”, mas admite que “quando se chega a uma fase em que as doenças são crónicas e a autonomia se reduz tem que se recorrer a outro tipo de soluções”. Contudo, garante que “o idoso é muito mais feliz vivendo junto dos seus familiares e não em lares como muitos ainda vivem”.
O antigo ministro do Emprego e da Segurança Social considera fundamental "repensar seriamente as políticas de apoio aos mais idosos" porque "o idoso de hoje é diferente do de há 20 ou 30 anos atrás".
“Hoje vive-se muito mais tempo e o futuro vai provar-nos que nós precisamos de ter muitas mais instituições dedicadas a cuidados continuados”, sublinha.
“Silva Peneda lembra também que “os lares que foram feitos há 40 anos não estavam preparados para este tipo de questões” pelo que “temos de pensar como é que a segurança social e a saúde se vão articular no sentido de resolver uma tendência claríssima de prever a situação dos idosos que estão em situação incapacitante, e as doenças mentais são cada vez em maior número porque as pessoas vivem mais tempo”.
“Vamos ter aqui a necessidade de repensar seriamente as políticas de apoio aos mais idosos”, remata.