A Federação Académica do Porto (FAP) alerta que existe um "risco de abandono real" do Ensino Superior, provocado pelo aumento do custo de vida.
Num inquérito feito pela FAP, ao qual a Renascença teve acesso, 47% dos estudantes inquiridos assumem "reduzir gastos em cada compra" e 32% admitem terem reduzido "a frequência de ida às compras".
Por causa destas condições, 24% do universo do questionário refere mesmo pensar, ou já ter pensado, em desistir de estudar.
Estes são números que preocupam a presidente da FAP, Ana Gabriela Cabilhas, que, à Renascença, refere que a comunidade académica "tem sentido um agravamento do custo de vida".
"Isso obriga a que os estudantes tenham de alterar os seus comportamentos e os seus estilos de vida, só para poderem continuar no Ensino Superior. Os nossos estudantes estão muito dependentes das famílias e, com a inflação a atingir as famílias, o risco de abandono é real", realça.
No inquérito, 74% dos estudantes admitiram "um declínio significativo" no seu bem-estar psicológico. Destes, 64% atribuíram a causa ao aumento das dificuldades financeiras, com a inflação.
Ana Gabriela Cabilhas explica que os estudantes "sentem que são um peso para as suas famílias" e que isso "é um fardo".
A representante estudantil questiona, por isso, "quantos psicólogos é que foram contratados para as instituições de Ensino Superior?".
"Temos mais estudantes a precisar de apoio e deste acompanhamento, mas depois as instituições têm serviços que não conseguem responder em tempo útil, as listas de espera são longas. Para alguns estudantes, a situação pode ser já tarde demais", aponta.
Quando questionados sobre os valores que gastam, em média, em despesas correntes na frequência do Ensino Superior, só 21% dos inquiridos gastam menos de 200 euros, por mês. 29% gasta mais de 500 euros, 26% gasta entre 350€ e 500€ e 24% gasta entre 200€ e 350€.
A percentagem de estudantes que admitem dificuldades é 7% superior entre aqueles que beneficiam de bolsa de estudo . Entre este conjunto de estudantes, 38% responderam já ter sentido dificuldades em fazer face às despesas durante o ano letivo e 22% assumiram já ter pensado em abandonar o Ensino Superior por motivos financeiros.
A presidente da FAP refere que há "um peso claro do custo da Habitação" que depois se soma "o custo dos transportes, até para regressarem a casa, ao fim de semana".
"Nós sabemos que há um conjunto de estudantes que, por não terem recibo que comprove o seu alojamento, não têm acesso aos seus apoios. É preciso uma resposta mais efetiva", defende Cabilhas.
"E também recebemos relatos de estudantes, por exemplo de Belas Artes, que referem ter de comprar materiais essenciais mais baratos e de menor qualidade para os seus estudos", indica, ainda, a presidente da FAP.