Da Guatemala para a JMJ. Nove meses com uma família portuguesa
12-07-2023 - 06:24
 • Ana Catarina André

Era diretora de marketing numa multinacional e despediu-se para vir para Portugal e participar na preparação do encontro com o Papa Francisco. Foi acolhida por Ana e João Barreto que ganharam uma amiga.

Não se conheciam, nem se tinham encontrado antes, mas no dia em que Yesvi Elías chegou a Lisboa, vinda da Guatemala, a família Barreto entregou-lhe a chave de casa. “Antecipámos a nossa Jornada Mundial da Juventude (JMJ)”, conta Ana Barreto, explicando que a jovem guatemalteca, que veio para Portugal para ser voluntária na JMJ, mora com ela e com o marido desde novembro do ano passado. “Tem sido uma experiência muito enriquecedora”, acrescenta João Barreto.

Yesvi Elías era diretora de marketing numa multinacional, no seu país, e decidiu despedir-se para integrar a preparação da JMJ, enquanto voluntária de longa duração. “Estava bem, profissionalmente. Tinha tudo, mas sentia-me vazia. Queria dar um pouco de mim aos outros”, recorda a jovem de 33 anos. Nessa altura, candidatou-se ao comité organizador local da JMJ de Lisboa e a uma bolsa de estudos em Espanha. Foi aceite pela universidade, mas recusou. “Tinha fé de que viria para Portugal.”

Quando chegou, em meados de novembro, tinha à sua espera os Barreto, uma das 21 famílias portuguesas que aceitou acolher voluntários de longa e média duração. “É quase uma impossibilidade dizer que não a um convite destes”, diz Ana Barreto, contando que coincidentemente, quando receberam o desafio, uma das filhas - a última de três a autonomizar-se - estava prestes a casar e a mudar de casa. “Saiu a Rosarinho, entrou a Yesvi”, conta, divertida. Sem medo ou resistência, procuraram ajudar a voluntária a integrar-se na família, mas também na cidade. “Não pensámos muito no que poderia correr mal. Alguma coisa nos fez abrir o coração”, diz João Barreto.

Neste momento, trabalham na organização da JMJ, 49 voluntários internacionais de longa e média duração. A Yesvi Elías coube colaborar na preparação do Festival da Juventude, composto por um conjunto de eventos culturais, religiosos e desportivos. A adaptação à organização foi difícil, assume a guatemalteca. “No início, não éramos muitos na sede [da jornada], não nos conhecíamos.” Uma realidade que em poucas semanas se alterou, conta. “Hoje, tenho muitos programas. Estou a viver ao máximo. Há muito trabalho para fazer.”

Natal e Páscoa em Portugal

Em poucas semanas, Yesvi Elías apercebeu-se das semelhanças entre os Barreto e a sua própria família. “Um dos filhos parece-se com o meu irmão na maneira de ser, uma das filhas com a minha irmã. É muito engraçado. Eles têm quatro netos e eu quatro sobrinhos”, conta, divertida. E garante: “Até a esses detalhes Deus olha, para que me sinta mais em casa”.

Costumam jantar juntos e partilhar os momentos de lazer e as festividades. Partilharam o Natal e a Páscoa, e no aniversário de Yesvi, os Barreto prepararam-lhe uma festa. “No princípio, ao fim-de-semana, estávamos sempre mais preocupados para saber se a Yesvi queria fazer um programa connosco. Agora está tão ocupada que é como os filhos crescidos: não andamos atrás deles”, afirma a gestora Ana Barreto, de 61 anos.

Além de terem ganhado uma amiga, beneficiaram também de uma experiência que João Barreto descreve como “extraordinária”. “A aproximação da cultura da Guatemala à nossa é uma fonte de enriquecimento”, diz o engenheiro, destacando também a vertente espiritual. “Rezamos mais juntos, sobretudo às refeições.”

A poucas semanas do início da JMJ, e com o bilhete de regresso a casa já comprado, Yesvi Elías já tem emprego garantido na Guatemala. “Depois de me ter despedido, o meu chefe escreveu-me, e pediu-me para voltar, mas com uma posição melhor”, conta, dizendo que passará a estar responsável pela gestão de cinco marcas – antes de vir para Lisboa, tinha apenas uma à sua responsabilidade. “Deus é tão grande que mesmo que me tenha despedido, vou regressar com trabalho.” E garante: “Se deixas tudo por Ele, não te deixa à deriva e responde.”