O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, defendeu esta sexta-feira que a economia portuguesa revela resiliência e tendências que a tornam quase imune a flutuações dos ciclos políticos e económicos, ainda que defenda a importância da previsibilidade.
Mário Centeno respondia às perguntas dos jornalistas durante a apresentação do “Boletim Económico” de junho, divulgado hoje, no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
“Os países com mais sucesso económico e social no mundo são aqueles cujas economias são resilientes e tem tendências e transições assentes, que as tornam quase imunes às flutuações dos ciclos económicos e ciclos políticos. Portugal mostra hoje tendências compatíveis com isso, talvez num dos raros momentos na sua história”, afirmou.
Momentos antes, Mário Centeno sublinhou que o cenário apresentado hoje pelo BdP – no qual melhorou as previsões de crescimento e da inflação deste ano – “não é nem otimista, nem benevolente com a economia portuguesa”.
“É um cenário muito exigente para todos os que querem que a economia portuguesa cresça e convirja com a área do euro. É um cenário que exige estabilidade financeira e das políticas económicas e por estabilidade entendam previsibilidade”, assinalou.
O BdP prevê que a economia portuguesa vai crescer 2,7% em 2023, 2,4% em 2024 e 2,3% em 2025 e que a taxa de inflação vai reduzir de 5,2% este ano para 3,3% em 2024 e 2,1% em 2025.
O responsável pelo regulador bancário português recordou que a zona euro está em recessão técnica, “podemos talvez usar apalavra estagnação”, mas “também é verdade” que as previsões antecipam “que a convergência entre Portugal e a área do euro continua”.
“As previsões que hoje aqui apresentamos é o crescimento económico dos portugueses. É obra dos portugueses e só existe por causa dos portugueses”, afirmou.
O responsável do supervisor realçou que “os dois motores de crescimento económico” que o BdP projeta “para os próximos dois anos voltam a ser as exportações e o investimento”.
“O consumo privado não é a principal fonte de crescimento da economia portuguesa. Não é, nem tem sido neste período de convergência”, sublinhou.
“Esta não é a mesma economia que tínhamos há alguns anos e arrisco dizer que é uma melhor economia” defendeu Mário Centeno.
Maior previsibilidade nos juros
Centeno disse também acreditar que, após o verão, pode haver maior previsibilidade sobre a trajetória das taxas de juro do BCE, já que terão sido recebidos novos dados sobre a inflação.
As declarações de Centeno surgem um dia após a presidente do BCE, Christine Lagarde, ter afirmado ser “muito provável” que na reunião do Conselho de Governadores de julho seja decidido um novo aumento das taxas.
O governador do BdP reforçou que a política monetária do BCE é decidida reunião a reunião e baseada em dados, considerando que “fazer antecipações de resultados de reuniões não é um bom exercício nem para a credibilidade da política monetária nem do BCE”.
“As próximas reuniões do BCE são cruciais para isso [sobre a trajetória das taxas]. As reuniões vão ser tidas num contexto informativo que não é o de hoje. Vamos saber qual a inflação de junho, de julho”, assinalou, elencando ainda o reembolso pelos bancos relativo às operações refinanciamento de prazo alargado.
Para o governador do BdP, “a inflação é mesmo um sinal perturbador”.
“Temos de fazer todos coletivamente um esforço enorme para conter a inflação. O BCE tem o seu instrumento, que é a taxa de juro, que atua de forma muito clara na economia”, refere.
Mário Centeno sublinhou que o desafio maior que se coloca hoje é o facto de ter havido "uma subida muito rápida da taxa de juro”.
“Temos tido a necessidade de que essa subida nos levasse para território restritivo. Estamos a mudar de regime, de taxa de juro baixas e muito baixas e essa mudança de regime precisa de tempo”, afirmou. “Não temos tido esse tempo, temos de ter alguma cautela adicional sobre o que será o ajustamento”, acrescentou o governador do BdP.
Depois de a Reserva Federal norte-americana ter decidido, na terça-feira, manter inalterado o intervalo de taxa de juro de referência, o BCE voltou a subir as taxas de juro diretoras em 25 pontos base.
A taxa de juro das principais operações de refinanciamento subiu para 4%, a taxa de facilidade de depósito passou para 3,50% e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez aumentou para 4,25%, com efeitos a partir de 21 de junho.