O secretário-geral comunista pede o voto na CDU para travar uma maioria absoluta do PS nas eleições legislativas do próximo dia 6 de outubro.
Em entrevista à Renascença, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, diz que "se o PS ficar de mãos livres há sinais claros que corremos o risco do retrocesso". Dá como exemplos "medidas gravosas no plano do direito laboral" aplicadas pelo Governo do Partido Socialista no final da legislatura, como o alargamento do período experimental e o agravamento da questão das desregulamentação dos horários "com toda a percaridade que isso implica" para "as novas gerações de trabalhadores".
"Um jovem, ou um desempregado de longa duração correm o risco de andar de período experimental em período experimental", lamenta.
Jerónimo de Sousa considera que a falta de uma maioria absoluta permitiu ao longo dos últimos quatro anos elevar a importância da Assembleia da República, impedindo que esta se tornasse um mero "cartório notorial do Governo". Caso não haja maioria absoluta nas próximas eleições, Jerónimo não se compromete em apoiar um Governo minoritário do PS, dizendo que "tudo o que for bom para os trabalhadores, povo e país, terá o apoio do PCP. Naquilo que for negativo, votaremos contra".
Aeroporto no Montijo não irá passar de “um mero apeadeiro”
Apesar destes avisos contra a possibilidade de o PS reforçar o seu eleitorado, Jerónimo recusou sempre, durante a entrevista, qualquer aproximação ao PSD. Mesmo quando confrontado com o facto de os dois partidos terem ideias comuns em relação ao novo aeroporto - o PCP prefrere a solução Alcochete, considerando que dentro de dez anos Montijo estará reduzido "a um mero apeadeiro" - o líder comunista fez questão de sublinhar que embora já tenha havido convergência de votos com o PSD, há "diferenças insanáveis" em "questões estruturantes".
Nesta entrevista, o líder comunista comentou o relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que dá conta da descida da despesa com saúde entre 2007 e 2017. Jerónimo de Sousa atira responsabilidades para governos anteriores, mas reconhece que nos últimos quatro anos o Ministério das Finanças atuou com mão de ferro.
Quanto ao atual executivo, lamentou que o ministério de Mário Centeno não tenha permitido maiores investimentos. "Independentemente desta ou daquela medida que o Governo tomou, medidas positivas e que devemos valorizar, a verdade é que havia sempre a sombra tutelar do Ministério das Finanças que sempre, em relação ao investimento na Saúde, tinha uma posição quase de guarda pretoriana, em relação ao orçamento", disse.
Em relação à Saúde, "o Ministéro das Finanças era quase uma guarda pretoriana do orçamento"
Salário mínimo de 850 euros na próxima legislatura
O PCP considera que o aumento gradual do salário mínimo pode chegar aos 850 euros já na próxima legislatura, defendendo que essa é mesmo uma medida essencial para que António Costa possa cumprir o seu desejo de erradicar a pobreza no país.
"É uma proposta sustentada e credível. Na próxima legislatura é possível, necessário e exequível chegar aos 850 euros", afirmou, dizendo que essa meta "não pode ficar para o dia de São Nunca à tarde".
"A valorização dos trabalhadores e dos salários é uma medida crucial. António Costa disse que queria erradicar a pobreza no nosso país e isso passa pela valorização dos trabalhadores e dos seus salários. Hoje existem trabalhadores que trabalham empobrecendo, todos os setores têm milhares que ganham 600 euros por mês."
O reforço dos salários é também uma forma de combater o défice demográfico, garante. "Em primeiro lugar, combate a emigração, depois dá mais confiança aos jovens para constituir família, para procurar a felicidade a que tem direito. Isso faz-se com medidas concretas e não com anúncios. Assim consegue-se também o regresso de muitos que emigraram."
Sugestão de Rio para a reforma da Segurança Social passaria o “bife do lombo para as mãos dos privados”
O líder do PCP também não se mostra preocupado pela sustentabilidade da Segurança Social, um aviso lançado frequentemente pela direita e que considera "alarmista".
"Hoje a vida está a demonstrar quantos alarmismos não existiram no Governo anterior sobre a falência da Segurança Social. Quanto mais reposição de rendimentos e direitos, quanto mais emprego criado, mais força e sustentabilidade teve e tem a Segurança Social. Hoje existe uma segurança muito grande em relação ao futuro, tendo em conta o aumento das contribuições que resultam de mais emprego, mais postos de trabalho, dos respetivos descontos, a melhor defesa da Segurança Social é manter esta linha de valorização valorização dos salários e reposição de rendimentos."
"Fico preocupado de ver novamente Rio Rio a considerar que deve haver uma reforma que, no essencial, visa a privatização de segmentos da Segurança Social, particularmente das contribuições mais elevadas. Ou seja, o bife do lombo passaria para as mãos dos privados, o resto seria uma Segurança Social para os pobrezinhos. Queremos uma Segurança Social universal e solidária."
O secretário-geral do PCP é o primeiro líder partidário a ser entrevistado nas manhãs da Renascença.
Ao longo dos próximos dias úteis serão entrevistados os líderes de todos os partidos com assento parlamentar.
[Notícia atualizada às 11h21]