Um ano depois de terem chegado a Portugal, os novos bioestimulantes - a gama “ADN” desenvolvidos pelo Centro Mundial de Inovação, em França - abrem as portas a um novo conceito de agricultura preparado para enfrentar e combater as alterações climáticas.
Num ano agrícola muito complicado por causa da seca, alguns agricultores aceitaram o desafio, aplicaram esta nova geração de produtos “amigos do ambiente”, reduziram os fertilizantes tradicionais, mas não a produtividade.
“Produzir cada vez mais de forma sustentável” é, segundo o diretor-geral da Timac Agro em Portugal, uma filial do grupo Roullier, o grande desafio dos próximos tempos, tanto mais que não há fim à vista para a guerra da Ucrânia, com repercussões na segurança alimentar. Este e outros aspetos detalhados na entrevista de Marco Morais.
Há um ano era lançada a nova geração de bioestimulantes - ADN Performance da TIMAC Agro - criada, de acordo com a empresa, para responder às alterações climáticas. Passado este tempo, que balanço é possível fazer? Confirmaram-se as vossas melhores expetativas?
O balanço é francamente positivo. Do ponto de vista agronómico, o novo conceito ADN Performance e as suas cinco gamas vieram confirmar serem verdadeiras soluções para os agricultores. Com estas novas gamas registámos um importante contributo na obtenção de maiores produtividades num ano agrícola muito complicado. Muitos agricultores conseguiram minimizar o impacto sentido do fenómeno das alterações climáticas, pois este ano tivemos um cenário de seca extrema em todo o país, falta de água em algumas regiões e golpes de calor extremo que comprometeram quer as produções, quer a qualidade das mesmas. O feedback dos agricultores foi entusiasmante.
Estamos a falar de resultados positivos no terreno, junto de agricultores? Tem números que nos possa dar e que sustentem esta vossa satisfação?
Ouvirmos agricultores dizerem-nos que com o Kaoris obtiveram mais 2% de teor de gordura (em azeitona da variedade cobrançosa) e que anteciparam a vindima (das uvas da variedade trincadeira) em duas semanas, com uvas de máxima qualidade e num ano tão adverso, são apenas alguns dos exemplos que podemos dar. Tivemos casos de agricultores que nos relataram que com Irys e Genaktis obtiveram uma produção record num ano em que o normal foi as produções caírem. Um cliente nosso dizia-nos “sou muito cético com novos produtos, mas estes novos bioestimulantes convenceram-me. Plantas mais vigorosas, plantas mais saudáveis e a produção foi top quer em qualidade quer em qualidade. Trata-se de produtos top”.
Este é um anunciado novo conceito de agricultura. Pode explicar-nos, para que todos entendamos, que conceito é este, o que são bioestimulantes e quais são as mais-valias?
De forma simples, o nosso Centro Mundial de Inovação (CMI) vem desenvolvendo há quase 10 anos este novo conceito de bioestimulantes. As plantas têm um património genético superior ao nosso (dos humanos), mas esse potencial genético nunca é expresso na totalidade, o que origina muitas quebras de produtividade. Com base nisso, selecionámos um conjunto de extratos naturais ricos em biomoléculas e com a tecnologia presente no CMI identificámos de forma muito precisa as moléculas responsáveis pela atividade biológica, ou seja, quais os efeitos bioestimulantes que estas moléculas naturais têm nas plantas. A partir daí extraímos as moléculas que nos interessam mais, em seguida elas são purificadas, estabilizadas e formuladas em meio líquido, de modo a obtermos estas cinco novas gamas de bioestimulantes. Só após numerosos ensaios de validação, quer em laboratório quer no campo, do real interesse destas novas gamas é que lançámos para o mercado estas novas soluções. As grandes mais valias são podermos contribuir para a otimização da produtividade das plantas e uma maior resistências aos stresses abióticos, contribuirmos para a mitigação dos efeitos nefastos das alterações climáticas bem como alimentar uma população crescente duma forma mais otimizada e sustentável.
Há um ano, quando a Renascença visitou o Centro Mundial de Inovação, em Saint Malo, na França, ainda não tinha começado a guerra na Ucrânia. Desde então, todos assistimos às notícias preocupantes em torno da possível escassez de bens essenciais. Neste vosso trabalho, encontramos também, digamos, uma solução que possa responder a problemas como este?
Com estas cinco novas gamas conseguimos ajudar os agricultores a produzir mais com menores aplicações dos chamados fertilizantes tradicionais. Tivemos casos de redução de 50% na aplicação de fertilizantes sem reduzirmos a produtividade, havendo até casos de aumentos produtivos. Basicamente, é conseguirmos produzir mais com menos.
A FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura tem feito inúmeros alertas, alertando, em consequência da guerra, para um cenário de escalada dos preços dos alimentos, entre 8% a 22% que, de resto, todos sentimos, e também para as populações malnutridas a nível mundial, entre oito a 13 milhões de pessoas. O crescimento agrícola, sustentável, é uma das soluções para reduzir a pobreza e conseguir chegar à tão desejada segurança alimentar?
A produção agrícola sustentável não será viável se não inovarmos pois, muitas vezes, a sustentabilidade significa quebras de produtividade. Por outro lado, ninguém deseja um aumento dos preços dos bens alimentares. Assim, o grande desafio do agricultor é produzir de forma cada vez mais sustentável, mas sem perdas de produtividade, de modo a não tornar os alimentos inacessíveis a uma grande parte da população mundial. Isto só se conseguirá obter com inovação. Nós estamos a fazer a nossa parte no que diz respeito à nutrição das plantas e sua bioestimulação.
A própria União Europeia está preocupada com os efeitos na segurança alimentar de fatores como as alterações climáticas, a guerra na Ucrânia ou as consequências económicas da Covid-19. A expressão “Pensar Global, Agir Local” faz cada vez mais sentido? É este o caminho que devem trilhar empresas como a vossa?
Talvez sejamos o melhor exemplo do tal “Pensar Global, Agir Local”. Somos a empresa do setor dos fertilizantes e até do agronegócio com maior número de técnicos no terreno a apoiarem diariamente os agricultores portugueses. Estamos presentes em todo o território nacional, do norte ao sul do país, do litoral ao interior e com uma forte presença nas ilhas dos Açores e da Madeira. Mais de 60% da nossa equipa de técnicos está no interior. Temos um técnico na ilha do Pico a acompanhar os produtores de vinho do Pico ou de carne IGP (Indicação Geográfica Protegia).
Voltando ao vosso produto e aos resultados promissores que alcançaram, quais são os desafios para 2023?
Continuarmos a apoiar os produtores portugueses com o catálogo mais rico e diversificado de soluções para as problemáticas relacionadas com a fertilização dos solos e a nutrição das plantas. Contudo, temos referido que estes novos produtos não devem ser encarados como alternativas, mas sim como complementos que devem ser cuidadosamente integrados num modelo de agricultura que está em transição para ser cada vez mais responsável e sustentável. Assim, um dos grandes objetivos é darmos continuidade ao lançamento deste novo conceito ADN Performance em 2023 e apoiarmos os agricultores nesta transição tão desafiante. Queremos ser uma parte importante das soluções que o agricultor procura e necessita para produzir os alimentos de que tanto necessitamos para o nosso bem-estar.
Há novos projetos para colocar em marcha atendendo às necessidades que se vão verificando?
Desde o início da pandemia lançámos cinco novas gamas de bioestimulantes com o novo conceito ADN Performance, um novo corretivo de solos biológico – o ENERGEO, que permite corrigir e atuar sobre o potencial redox aumentando a fertilidade e a sanidade dos solos –, um novo fungicida biológico – o TUSAL, à base de microrganismos benéficos – e, em 2023, iremos lançar duas novas gamas biológicas – EMEORO e PROBITAL, produtos à base de microrganismos benéficos para os solos e para as plantas como bactérias e micorrizas.