A cooperativa de consumo anti desperdício Fruta Feia foi distinguida com o prémio LIFE para o Ambiente da União Europeia.
“Este prémio significa um grande reconhecimento do nosso trabalho, dos nossos resultados que superaram as metas às quais nos propusemos e prova também que o nosso modelo é possível, ou seja, que este modelo alternativo que nós construímos de consumir frutas e hortícolas feias, e baseado no compromisso do consumidor, é um modelo possível”, diz à Renascença a mentora da cooperativa Fruta Feia Isabel Soares.
Os prémios LIFE reconhecem os projetos mais inovadores, inspiradores e eficazes nos domínios da proteção da natureza, do ambiente e da ação climática. Os vencedores foram selecionados entre 15 finalistas.
O programa LIFE é o instrumento de financiamento da UE para o ambiente e a ação climática. E foi com esse financiamento que a Fruta Feia pôde “crescer muito e replicar o modelo por Portugal”.
“Nós tínhamos na altura três pontos de entrega, agora já temos 12 postos de entrega”, conta Isabel Soares, realçando que a Fruta Feia foi a primeira cooperativa a obter um financiamento LIFE.
Atualmente a Fruta Feia trabalha com 250 agricultores e tem 6. 400 consumidores. E há muita gente que quer consumir os produtos, mas tem de continuar à espera.
“São cerca de 20 mil pessoas em lista de espera e a única solução é haver mais pontos de entrega, de maneira a fazer chegar a fruta feia a estas pessoas também”, aclara.
De acordo com Isabel Soares, por semana, a cooperativa está a “salvar cerca de 15 toneladas de frutas e hortícolas, feias mas saborosas”. Os números ganham, no entanto, uma outra amplitude se recuarmos ao arranque do projeto.
“Desde o nosso arranque, setembro de 2013, já salvamos 2. 500 toneladas, que é muita coisa. E colocamos mais de 1 milhão de euros nas mãos dos agricultores”, sublinha a mentora da cooperativa.
Para se receber os alimentos da Fruta Feia é necessário efetuar a inscrição no site oficial da cooperativa. Ali pode escolher entre dois tipos de cabazes: o mais pequeno, com sete variedades de produtos, por 3,60 euros, e o maior, com oito variedades, por 7,20 euros. A recolha é feita nos 12 pontos de entrega espalhados pelo país.
Projeto ambiental com impacto económico
A Fruta Feia é um projeto ambiental, explica Isabel Soares, “no sentido que evita toneladas de desperdício de frutas e hortícolas por meras razões estéticas. E ao fazer isso, estamos também a valorizar os recursos utilizados na sua produção, ou seja, a água, a energia, o solo”.
“É um projeto social que tem um impacto social nos dois pontos da cadeia agroalimentar: ao nível do agricultor, porque nós compramos por preço justo produtos que antes eram considerados lixo, e ao nível do consumidor também, porque as pessoas têm acesso a produtos da época e da região a um preço muito inferior ao dos supermercados”, assinala a mentora da Fruta Feia, assumindo que o projeto tem tudo para crescer e esse será o próximo objetivo a alcançar.
“O nosso crescimento tem que ser feito de uma maneira sustentável”, defende, explicando que “arrancar com novos pontos de entrega implica investimento, quer económico quer a nível de recursos humanos”.
“Temos que encontrar um espaço, temos que encontrar material, temos que contratar pessoas. Cada vez que arrancamos com um ponto de entrega, queremos assegurar que ele vai ser sustentável e, portanto, requer algum tempo. Não se arranca com um ponto de entrega da noite para o dia. Tem uma preparação prévia ao seu arranque”, explica Isabel Soares.
A nível internacional, a cooperativa está a dar apoio de consultoria a outras associações e entidades que querem criar um modelo semelhante.