Mais de 500 anestesistas estão em falta nos hospitais públicos em Portugal, segundo o último Censos de Anestesiologia, divulgado em junho, uma realidade que neste Natal ficou visível na maior maternidade do país, a Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa.
A falta de anestesistas nas escalas do dia 24 e 25 de dezembro levou a que a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, apenas recebesse nesses dias as urgências, passando as restantes utentes para outros hospitais, conforma foi avançado pela Renascença.
Esta quinta-feira, a Ordem dos Médicos desmentiu uma reação da ministra da Saúde a essa notícia, quando Marta Temido garantiu que a MAC propôs contratar anestesistas por 500 euros à hora para fazer face à falta destes especialistas no período do Natal. Horas depois, a ministra voltou a reafirmar que essa proposta aconteceu mesmo, sem contudo apresentar dados que o comprovem.
De acordo com o Censos de Anestesiologia de 2017, citado esta tarde pela agência Lusa, faltavam 541 médicos anestesiologistas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O mesmo estudo, divulgado na Acta Médica Portuguesa, veio mostrar que, até 2017, cerca de um terço dos anestesistas formados nos últimos anos optou por não trabalhar no SNS.
Em três anos formaram-se 145 especialistas em anestesiologia e 99 é que terão ingressado nos quadros médicos dos hospitais do SNS, o que representa 68%.
Segundo o Censos, que analisou a realidade em 86 hospitais, há cerca de 1.280 anestesistas a trabalhar no SNS, o que dá um rácio de 12,4 profissionais por 100 mil habitantes. Em 2014, o rácio era ainda menor, de 12,0.
Há ainda 262 anestesistas a trabalhar apenas em unidades privadas de saúde, fazendo com que o rácio passe a ser de 15,1 por 100 mil habitantes.
A Federação Mundial de Sociedades de Anestesiologia recomenda que o rácio seja de 17,9 anestesistas por 100 mil habitantes.
Apesar de um crescimento de 2% no número de anestesistas nas unidades públicas, as necessidades dos hospitais têm sido ainda mais crescentes. Foram identificadas mais de 615 mil intervenções cirúrgicas com necessidade de um anestesista, o que representa um acréscimo de 3,4% em relação a 2013.
Apesar de ter havido um ligeiro aumento no rácio dos anestesistas de 2014 para 2017, a região de Lisboa e Vale do Tejo e a do Algarve registaram um decréscimo.