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Os eucaliptos continuam a crescer descontroladamente na zona de Pedrógão Grande. O alerta é da Quercus dois anos após os grandes incêndios na região centro.
À Renascença, o dirigente da Quercus João Branco denuncia que há zonas com um milhão de novas árvores por hectare.
“Está a haver um nascimento descontrolado de uma imensa quantidade de eucaliptos que estão a nascer a partir das sementes das árvores que arderam”, descreve João Branco.
Há um ano, o especialista em ciências florestais Joaquim Sande Silva alertava que, caso não houvesse gestão da floresta, o risco de incêndio na zona afetada pelo grande incêndio poderia vir a ser maior, face a um aumento da densidade do combustível gerado, especialmente pela regeneração natural dos eucaliptos.
Dois após o incêndio, o panorama não mudou, apenas o tamanho dos eucaliptos, que já atingem os três ou quatro metros de altura.
"Os proprietários continuam muito esmorecidos e com pouca vontade de desenvolver projetos ou ideias. A floresta, essencialmente, está ao abandono. Uma grande parte dela continua ao abandono", resume o presidente da Associação de Produtores Florestais de Pedrógão Grande (APFlor), Jorge Fernandes.
As árvores queimadas que se mantêm de pé dificilmente serão removidas, que os proprietários não têm dinheiro para as retirar e, face ao incêndio, muitos estão sem rendimento para gerir a regeneração natural dos eucaliptos, para além de estarem a braços com um "avanço das acácias", conta.
"Em territórios pobres como o nosso não se pode pensar que o pequeno proprietário, idoso, empobrecido, consegue investir", salienta, apelando a uma intervenção de fundo da tutela.
Dia pelas vítimas
Esta segunda-feira assinala-se, pela primeira vez, o Dia Nacional em Memória das Vítimas dos Incêndios Florestais.
Estão previstas uma série de iniciativas, entre elas uma missa em Castanheira de Pera, onde vão estar o primeiro-ministro e o Presidente da República.
O incêndio que deflagrou há dois anos em Pedrógão Grande e que alastrou a concelhos vizinhos provocou a morte de 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.
Mais de dois terços das vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas pelas chamas na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no interior norte do distrito de Leiria, ou em acessos àquela via.
Cerca de 53 mil hectares de território, 20 mil hectares dos quais de floresta, sobretudo dos municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, de Góis, Penela e Pampilhosa da Serra (Coimbra) e da Sertã (Castelo Branco), e ainda de Alvaiázere e de Ansião (Leiria), de Arganil (Coimbra) e de Oleiros (Castelo Branco), foram atingidos por estes fogos.
Além de terem destruído total ou parcialmente mais de meio milhar de casas, 264 das quais habitações permanentes, cerca de 200 habitações secundárias e mais de cem casas devolutas, de acordo com dados da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), as chamas também atingiram quase meia centena de empresas, afetando os empregos de quase 400 pessoas.
Em 3 de julho de 2017, a CCDRC calculava os prejuízos diretos dos fogos em 193,5 milhões de euros, prevendo mais de 303 milhões de euros para medidas de prevenção e relançamento da economia na região.
Um ano depois, 157 das habitações permanentes (60%) destruídas pelo fogo tinham sido recuperadas. Dois anos após o incêndio estão concluídas 90% daquelas casas, sendo que cerca de um terço dizem respeito a novas construções e as restantes a reconstruções parciais.