Centeno sobre greve dos enfermeiros: "Devia ser apenas de último recurso"
19-12-2018 - 14:54
 • Susana Madureira Martins com redação

Ministro das Finanças atribui lutas profissionais a bons resultados económicos e recusa que “os portugueses em greve sejam cobradores”. Rejeita também acusações de arrogância com os professores.

Mário Centeno faz novas contas à greve cirúrgica dos enfermeiros e apela ao rigor necessário das contas públicas. Ouvido esta quarta-feira na comissão parlamentar de Trabalho, o ministro das Finanças frisou que a greve é um “mecanismo que devia ser apenas de último recurso”.

“A definição de urgências é muito complexa e eu apelo a que todos tenhamos muita calma na avaliação destas situações, porque os ganhos de curto prazo que todos possamos tirar desta situação terão custos muito significativos para a estabilidade do Serviço Nacional de Saúde, para a credibilidade do Serviço Nacional Saúde e para a qualidade com que ele trata aqueles que mais necessitam do Serviço Nacional de Saúde”, advertiu.

O ministro referiu ainda que “nos hospitais onde tem havido greve dos enfermeiros foram adiadas perto de cinco mil cirurgias” e que “nesse mesmo período, esses mesmos hospitais processaram 2.600 cheques de cirurgia ditos urgentes”.

“É muito importante que todos pensemos o que é que queremos de todas estas circunstâncias e como é que tudo isto se pode tratar ao nível da administração pública. Temos de ser muito rigorosos, temos que enquadrar todas as nossas exigências naquele que é o processo que o país tem percorrido”, sublinhou.

Ambições naturais e legítimas

Mário Centeno considera a greve e a ambição dos enfermeiros perfeitamente natural.

“Dir-me-á que a ambição do lado da classe dos enfermeiros é chegar mais longe”, respondeu a um deputado do PSD. “Eu acho que essa ambição é absolutamente natural. Não tem nenhum problema. Só tem de ser medida, e é função do Governo, com todas as outras questões que o Governo tem que gerir. E é exatamente isso que fazemos”, ressalvou.

Na mesma audição, Centeno lembrou que, além dos enfermeiros, há outras carreiras da administração pública a que é preciso dar resposta.

“Temos inúmeras mesas negociais na administração pública. Mas a responsabilidade deste Governo é gerir o conjunto da administração pública e, tal como implementámos para os enfermeiros todas as medidas que acabei de referir, isso é igualmente verdade nos técnicos de diagnóstico e tratamento, cuja carreira estava para rever há mais de 15 anos, como é verdade na justiça, como é verdade em todos os outros profissionais”, referiu.

Governo tem feito aproximação aos professores

Mário Centeno admite ser sensível à questão da contagem de tempo de serviço dos professores e, em resposta ao Bloco de Esquerda, afirmou que houve uma tentativa de aproximação do Governo aos sindicatos, que mantiveram sempre a mesma proposta.

Diz Mário Centeno que o que foi oferecido à carreira dos professores foi uma resposta paralela à que foi dada a outras carreiras da administração pública.

“A forma como o congelamento foi feito numa e noutras carreiras foi distinto. O descongelamento seguiu exatamente as mesmas regras e o Governo tem tido uma posição, ao longo deste processo negocial, de aproximação”, começou por dizer.

“Por isso, não ficámos na nossa posição inicial – que era a que estava, aliás, expressa no programa de Governo – e aproximámo-nos da posição dos professores. É uma matéria sensível, difícil, que nos deve fazer pensar também na sustentabilidade de todas as carreiras da administração pública”, sublinhou.

Quanto a posições arrogantes, rejeita que o Governo as tenha tomado.

“O esforço que o Governo fez não foi nada arrogante, não foi unilateral nem foi intransigente. O Governo, no contexto da sustentabilidade que todas as nossas decisões devem ter, sob pena de revivermos momentos que Portugal não quer reviver, considerou que os dois anos, oito meses e 19 dias era o paralelismo adequado ao que aconteceu aos outros funcionários públicos em termos da contabilização em módulos de progressão do tempo dos professores”, explicou.

Não é agitação social, são reflexos do crescimento económico

O ministro das Finanças recusa que exista agitação social – o que existe, diz Mário Centeno, é mais ambição da parte de algumas classes profissionais da administração pública perante os bons resultados económicos.

"Porque o país vive um processo de crescimento – de crescimento dos seus rendimentos, de crescimento do emprego, níveis recordes de descida do desemprego, de aumento da atividade económica transversal. Esses momentos, em todas as sociedades são aqueles em que as pessoas se tornam mais exigentes. É absolutamente normal", sustentou no Parlamento.

E não há cobranças. “Ou você acha que isto são exigências de última hora?”, questionou o ministro.

“Cobrança? Acha a senhora deputada que os portugueses que estão em greve são cobradores? Eu não consigo sequer perceber que conceito é esse e tenho a certeza de que nenhum deles se revê nessa atitude de cobrança, porque os portugueses são muito responsáveis e têm-no mostrado ao longo do tempo. E é por isso que hoje nós podemos olhar para estas questões e procurar resolvê-las. E é por isso que as temos resolvido”, respondeu.

Mário Centeno foi ouvido esta quarta-feira na comissão parlamentar de Trabalho e Segurança Social.