O Papa Francisco canoniza este domingo, 11 de fevereiro, a primeira mulher Santa da Argentina, que tem uma relação especial com Portugal. Maria Antónia Figueroa – “Mama Antula”, como é conhecida – nasceu no século XVIII, e a seu pedido foi sepultada numa igreja portuguesa, onde continua a ser venerada.
“Maria Antónia também tem a ver com os portugueses na Argentina, porque quando chegou a Buenos Aires refugiou-se numa igreja dos portugueses, a Igreja da Piedade, e quis ser sepultada lá. A urna também foi doada pela comunidade portuguesa, e onde está sepultada está a imagem de Nossa Senhora de Fátima”, disse à Renascença Luísa Sanchez Sorondo, sua descendente, que está em Roma para a canonização.
A ligação a Fátima emociona o marido, Francisco Dionísio, ou não seja português. “Impressiona-me o facto de estar sepultada ao lado de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, porque esse terreno foi doado por um emigrante português… e depois estar casado com uma argentina que descende colateralmente desta futura Santa, para mim, a nível pessoal, é uma emoção”, refere.
O casal está em Roma para assistir à celebração de domingo. Francisco, que é responsável das relações eclesiásticas na Pontifícia Universidade Católica Argentina, diz que esta canonização está a ser um momento emocionante para todos os argentinos. “Ah, sim! É impressionante”, garante. Tanto que até o Presidente Javier Milei - recém eleito, e que falou mal do Papa durante a campanha - está agora em Roma e vai ser recebido no Vaticano.
“A Argentina está a viver momentos muito difíceis, houve uma transição política há pouco, e este Presidente criticou muito o Papa. Mas com isto, afinal, o Presidente decidiu participar da canonização e na segunda-feira até se vai reunir com o Papa”, indica.
Quem foi recebido já na sexta-feira, em audiência privada, foi a família de Francisco e Luísa, a quem o Papa disse que a nova Santa deve ser modelo de vida para todos. “Falámos da importância de Maria Antónia ter sido uma mulher sozinha, naquele momento em que tinham expulsado os jesuítas do país, e manteve sozinha a obra de Santo Inácio. O Papa explicou que quando uma mulher tem valor e perseverança pode conquistar coisas muito importantes, e que ela deve ser modelo, não só para mulheres, mas também para homens”, avança Luísa.
A celebração deste domingo culmina um dos mais longos processos de canonização – foi aberto em 1905, e só terminou agora, foram quase 130 anos de espera. “Já tivemos uma conferência na Universidade Gregoriana, dos jesuítas, onde alguns sacerdotes sublinharam que é uma questão de justiça. E o Papa também disse que se fez justiça”, em relação a uma mulher que é uma referência nacional.
“Quando ela morreu ainda não existia Argentina, só surgiu em 1810, mas ela criou as bases espirituais da nossa pátria. Podemos dizer que é a nossa mãe espiritual, porque fundou a educação católica e os pilares da fé e dos valores cristãos do nosso país”, afirma ainda Luísa Sorondo.
Ter sido uma leiga consagrada – ou seja, religiosa mas sem professar votos numa congregação – foi uma atitude inédita na Argentina do seu tempo, sublinha ainda. “Mama Antula nasceu em 1730, e nessa época, na América do Sul, a mulher ou se casava, ou ia para um convento de clausura, e ela escolheu ser uma leiga consagrada. Foi algo inédito e muito moderno para a época”.
Na audiência com o Papa, esteve também o filho mais novo de Luísa e Francisco, hoje com 11 anos. José Maria foi o primeiro bebé de quem o Papa se aproximou para saudar na missa inaugural do seu pontificado, tinha então pouco mais de um ano de idade. A imagem desse momento correu mundo, dando início à que é hoje uma prática habitual do Papa nas celebrações a que preside, a saudação e bênção de crianças.