Estaleiro-escola vai ensinar carpintaria naval de embarcações tradicionais
16-03-2017 - 14:09

Já não se encontram muitos carpinteiros navais a construir os tradicionais moliceiros e bateiras da Ria de Aveiro, ou os barcos de arte xávega, destinados à pesca de arrasto.

Os municípios de Estarreja, Murtosa e Ovar querem salvar a profissão de carpinteiro naval em madeira, num tempo em que escasseiam mestres e o "saber fazer" ancestral poderá perder-se. Por isso, em Estarreja, prepara-se a abertura de uma escola para ensinar a construir ou renovar embarcações tradicionais. A recuperação de um estaleiro, orçada em 120 mil euros, permitirá também instalar um espaço museológico.

Já não se encontram muitos carpinteiros navais a construir os tradicionais moliceiros e bateiras da Ria de Aveiro, ou os barcos de arte xávega, destinados à pesca de arrasto no mar, junto à costa.

O mestre Felisberto Amador, um dos últimos em actividade, habituou-se a trabalhar "quase sempre sozinho" no estaleiro que mantém aberto na freguesia ribeirinha de Pardilhó, em Estarreja. As visitas que recebe são mais de amigos que vão dar ânimo do que propriamente clientes com encomendas. "O futuro disto? É para acabar. Vai valendo quem tem um bocado de gosto nisto, porque não há malta nova a trabalhar", lamenta.

É em Pardilhó, mais concretamente na ribeira da Aldeia, que o município de Estarreja está quase a inaugurar um antigo estaleiro, para funcionar como espaço museológico, recolhendo ferramentas e outro espólio em risco de se perder. Mas também como escola. Os mestres vão ser chamados a ensinar os mais novos.
uma arte que passou de boca em boca ao longo de muitas gerações e sem projectos desenhados em papel.

Será um dos três pólos do futuro centro interpretativo da Ria de Aveiro (Estarreja, Murtosa e Ovar). No vizinho concelho da Murtosa, o estaleiro da praia do Monte Branco é o mais activo, entre reparações e uma ou outra nova embarcação que vão dando trabalho a dois ou três mestres, já às portas da reforma. A excepção é Marco Silva, pescador da arte xávega que aprofundou ali os conhecimentos de carpintaria naval em madeira e arriscou construir o seu novo barco moliceiro "para passeio". Só com o aparecimento de novos mestres carpinteiros será possível também manter a navegar os barcos típicos da Ria de Aveiro.

Senos da Fonseca, natural de Ílhavo, é um dos maiores especialistas em embarcações tradicionais. Aplaude o centro interpretativo de carpintaria naval da Ria de Aveiro. o engenheiro mecânico de formação, destaca, em especial, as características "únicas" do barco da xávega, com proa em 'meia lua' para enfrentar as vagas, ainda hoje muito usado na faina marítima. "É o mais desafiador barco tradicional que conheço em todo o mundo, o mais bem concebido para aquele fim, com ideias de arquitectura naval que é qualquer coisa de transcendente", garante.