Do "bode expiatório" à "reunião secreta". A audição da CEO da TAP em cinco pontos
04-04-2023 - 17:43
 • Ricardo Vieira e Manuela Pires

Christine Ourmières-Widener considera que a sua demissão da TAP é ilegal e afirma que a ex-gestora Alexandra Reis, que recebeu um indemnização de 500 mil euros, não tinha perfil adequado para o cargo.

Veja também:


A polémica indemnização a Alexandra Reis, uma reunião "secreta" com membros do Governo e deputados socialistas e um pedido do ex-secretário de Estado para alterar um voo do Presidente da República, foram alguns dos pontos altos da audição da presidente executiva cessante da TAP, Christine Ourmières-Widener, esta terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito.

1. "Alexandra Reis não tinha o perfil"

“Alexandra Reis não estava ajustada com a comissão executiva” da TAP e "não tinha o perfil necessário", declarou esta terça-feira a presidente executiva da TAP, na comissão parlamentar de inquérito. Christine Ourmières-Widener considera que está a servir de "bode expiatório" político.

A CEO da companhia aérea justifica, assim, a decisão de cessar o vínculo com a gestora, que saiu com uma indemnização de meio milhão de euros, que depois foi considerada ilegal.

“Alexandra Reis não estava ajustada com a comissão executiva”, declarou Christine Ourmières-Widener.

A saída de Alexandra Reis "não foi nada de pessoal", mas a gestora "não tinha o perfil necessário" para o cargo que desempenhava na TAP, refere a presidente executiva.

A CEO da TAP garante que o ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes disse que o ministro da altura, Pedro Nuno Santos, aceitava o acordo para indemnizar Alexandra Reis.

A responsável garante que nunca falou com o ministro das Finanças sobre o caso de Alexandra Reis.

2. "Bode expiatório numa batalha política"

Christine Ourmières-Widener, que foi demitida em direto pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, na sequência desta polémica, diz que é um "bode expiatório" em toda a situação e não aceita o despedimento com justa causa.

"Sobre o meu despedimento, a IGF não apreciou a culpa. Nesta história sou um bode expiatório numa batalha política, fui despedida a 6 de março e um mês mais tarde continuo em funções sem quaisquer orientações numa altura crítica para a empresa. Este processo é ilegal a forma como fui despedida", declarou.

A presidente executiva da TAP disse que estava à espera de ser despedida, mas não por justa causa, após reunião com João Galamba na manhã da conferência de imprensa do anúncio da exoneração dos presidentes da companhia.

“Não sabia da justa causa, de todo, antes da conferência de imprensa. Estava apenas à espera de ser demitida”, disse Ourmières-Widener.

Questionado pelo PSD de quem é a culpa, afinal, no caso de Alexandra Reis, Christine Ourmières-Widener descarta qualquer responsabilidade.

“Não me parece que se possa dizer que eu tomei a decisão. Eu coordenei a discussão, mas a decisão não fui eu que a tomei. Nunca tomaria uma decisão com o conhecimento que não tinha na altura. Sou CEO, nas não sou portuguesa. Por esse motivo, recrutei advogados e estava em conversas com o Governo, porque o Ministério das Infraestruturas representava o Governo", argumentou.


3. Demissão sem aviso

A CEO da TAP revelou que teve uma reunião com Fernando Medina, na véspera da conferência de imprensa onde foi revelado o relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) e onde foi demitida em direto, mas que o ministro das Finanças não lhe indicou que isso iria acontecer.

Christine Ourmières-Widener garantiu que o governante disse-lhe que "a situação era complicada", mas que só soube no dia seguinte que ia ser demitida, pela televisão.

"Durante esta discussão, o ministro não me deu essa informação. Disse que haveria uma conferência de imprensa, mas nunca me explicaram qual seria a sua natureza", referiu.

4. "Reunião secreta" e pedido de demissão de Galamba

Nesta audição da comissão parlamentar de inquérito ficou também a saber-se que a CEO da TAP reuniu-se com deputados do PS e membros do Governo, a 17 de janeiro, antes de uma primeira ida ao Parlamento para explicar a indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis.

A reunião, de acordo com Christine Ourmières-Widener, terá partido da iniciativa do gabinete do Ministro das Infraestruturas, que na altura já era João Galamba.

O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, já pediu a demissão do ministro João Galamba e desafiou o líder parlamentar do PS e o primeiro-ministro a pronunciarem-se sobre a reunião.


5. O estranho pedido para mudar voo de Marcelo

A presidente executiva da companhia aérea foi também questionada pela Iniciativa Liberal (IL) sobre uma viagem do Presidente da República, a Moçambique, em março do ano passado, em que o ex-secretário de Estado Hugo Mendes pediu para mudar o voo de Marcelo Rebelo de Sousa.

"Bom dia, sei que isto é um incómodo para ti, mas não podemos mesmo perder o apoio político do Presidente da República. Ele tem-nos apoiado no que diz respeito à TAP, mas se o humor dele mudar, tudo se perde. Uma frase dele contra a TAP ou o Governo e ele empurra o resto do país contra nós. Não estou a exagerar. Ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso pior pesadelo", citou Bernardo Blanco, deputado da IL.

Christine Ourmières-Widener disse que "desconfiou do pedido" e certificou-se que a antecipação do voo não veio do Palácio de Belém.

"Não fiquei surpreendida deste pedido não ter origem na Presidência da República, mas talvez de alguém no processo que achou que era uma boa ideia. Este voo não foi alterado e o Presidente encontrou outra solução. Não fiquei surpreendida, o Presidente nunca nos pediria para alterarmos um voo. Neste caso teria impacto em mais de 200 passageiros", disse aos deputados a CEO da TAP.