Entrou oficialmente em vigor o cessar-fogo na Síria, mediado por Washington e por Moscovo. As tréguas começaram ao pôr-do-sol na Síria, 17h00 em Lisboa.
O regime de Damasco e a maioria dos grupos rebeldes que o combatem não disseram oficialmente que aceitam o acordo, mas há indicações de que o respeitarão, com as forças armadas da Síria a dizer que haverá um "regime de calma" durante a próxima semana, mas reservando-se ao direito de responder a agressões. Outros grupos rebeldes já aceitaram o cessar-fogo, incluindo as forças curdas. A Turquia, outra parte envolvida no conflito, também está alinhada com os EUA e com a Rússia.
Os termos do cessar-fogo prevêem a cessação de hostilidades durante sete dias, mas excluem dois dos grupos rebeldes, nomeadamente o autodenominado Estado Islâmico e a Jabhat Fateh al-Sham, ex-Jabhat al-Nusra, próxima da al-Qaeda. Ambos serão alvo de ataques coordenados por parte da Rússia e dos EUA.
A complexidade da guerra civil na Síria torna qualquer negociação de paz ou de cessar-fogo extremamente complexa. Neste conflito não existem apenas rebeldes e forças leias ao regime. Há grupos rebeldes que combatem entre si, como é o caso do Estado Islâmico e quase todas as outras milícias; há grupos que são contra o regime, mas por via das circunstâncias acabam por combater mais os grupos extremistas islâmicos, como é o caso das milícias curdas apoiadas por grupos armados cristãos; e há grupos, como por exemplo os apoiados pela Turquia, que entraram na Síria para combater o regime mas deram por si a combater as forças curdas, por imposição de Ancara.
Moscovo tem apoiado inequivocamente o regime e os EUA têm dado algum apoio a grupos rebeldes, procurando, nem sempre com sucesso, que esse apoio não acabe por fortalecer os grupos extremistas islâmicos. Contudo, os dois países conseguiram alcançar um acordo para cessar-fogo que poderá trazer um período de tréguas para o país que há mais de cinco anos é devastado pela guerra.
Maiores hipóteses de sucesso?
Lívia Franco, especialista em relações internacionais e docente na Universidade Católica, recorda que já houve mais de uma dezena de tentativas de acordo e de cessar-fogo, mas que este tem maiores possibilidades de ter resultados palpáveis, uma vez que “procura ser mais detalhado nos mecanismos de aplicação concreta.”
A professora espera que a “curva de aprendizagem” leve as forças beligerantes a compreender que a o cessar-fogo é a única forma de abordar a gravíssima crise humanitária que afecta as partes do país que têm sido mais afectados pela guerra.
[Notícia actualizada às 17h33]