A atividade turística está completamente parada em Fátima, diz à Renascença a presidente da ACISO – Associação Empresarial Ourém-Fátima. Esta já é a normal “época baixa” para o maior centro do turismo religioso em Portugal, mas a pandemia de Covid-19, fez com que também fosse o destino mais afetado, diz Purificação Reis.
Em entrevista à Renascença, a presidente da ACISO – Associação Empresarial de Ourém-Fátima – lembra que o turismo religioso tem as suas especificidades e sofreu mais que o turismo em geral e no resto do território.
Sem estrangeiros, o verão fez-se muito à custa dos peregrinos e turistas nacionais. “Como Fátima está no centro do país, as pessoas vinham e no mesmo dia regressavam às suas casas, não pernoitavam. E o turismo internacional foi muito pouco expressivo, contámos com pouco mais do que os países mais próximos, nomeadamente Espanha”, diz Purificação Reis.
Ou seja, algum alívio nas restrições sanitárias não se refletiu em ganhos para a hotelaria da região. A restauração, ainda assim, foi e vai trabalhando, graças aos clientes locais e nacionais e aos fins de semana.
“Em condições normais, esta já é “época baixa” para Fátima, mas agora está tudo completamente parado. Há muitos hotéis encerrados e agora com dificuldades acrescidas com este longo período de pandemia. Estamos de olhos postos em 2022, mas só para o final do 1º semestre é temos expectativas de ter alguma retoma”. Ou seja, por altura das primeiras peregrinações aniversarias, a partir de maio.
Purificação Reis revela que os empresários do setor ainda tiveram alguma esperança no verão de 2021, mas muito rapidamente, a situação voltou a agravar-se com a instabilidade e a incerteza em relação aos contágios e às medidas adotadas por diversos países.
“As pessoas ficam com receio e não viajam. Não obstante haver pedidos de reserva de alojamento, cancelam com uma grande facilidade, em função da instabilidade e das condicionantes. Tem havido muitos cancelamentos, está tudo parado e é uma época crítica para o setor.
Hotelaria de Fátima continua a precisar de apoios
Há algumas unidades hoteleiras que fecharam no início da pandemia e não voltaram a abrir, diz Purificação Reis, admitindo que não sabe se é um encerramento definitivo. “Veremos quando o mercado estabilizar, o que decidem os proprietários”.
Entretanto, todos estão a passar por grandes dificuldades. A presidente da ACISO diz que o APOIAR.PT é essencial. Fátima tem cerca de dez mil camas instaladas e os empresários precisam de continuar a ter apoios à quebra de faturação, aos custos fixos, nomeadamente com combustíveis e energia. Esperam ansiosamente pela retoma, mas “vão para ela completamente descapitalizados, com as unidades paradas durante tanto tempo e sem receitas. Precisamos de financiamento à tesouraria, ajudas fiscais e à contratação. Para conseguir manter a oferta existente, sob pena de haver quem não tenha condições para reabrir”.
Outro problema com que as unidades já se debatem é com a falta de pessoal qualificado. Com a pandemia, houve uma nítida deslocalização dos recursos humanos para outras áreas e o turismo, foi uma delas. “E vai acentuar-se ainda mais, quando chegarmos a março/abril, com os hotéis a quererem reforçar as equipas de trabalho e se virem sem profissionais qualificados”.
Como todos os apoios são poucos, Purificação Reis vê como uma “boa notícia” o facto do município de Ourém ter retomado o programa de incentivo à pernoita dos turistas nacionais na hotelaria de Fátima.
Em 2021 a autarquia disponibilizou “10.001 noites”; este ano, para já, o programa tem 4.001 noites. Ou seja, o turista paga uma noite e o município, a segunda. “Assim, também têm tempo para passear pela região, que tem muito potencial e que poucos conhecem”, diz Purificação Reis.
“Todas estas campanhas vêm minimizar o impacto da pandemia. Não resolvem o problema de fundo, mas são uma ajuda muito importante para os empresários do setor”.
ACISO adia Workshops Internacionais de Turismo Religioso para junho
Face ao aumento de casos de Covid em todo o mundo, a direção da ACISO considerou que era mais prudente adiar a realização da 10ª edição dos Workshops Internacionais de Turismo Religioso para os dias 23 e 24 de junho.
À Renascença Purificação Reis admitiu que não foi uma decisão fácil. O evento estava marcado inicialmente para 9 e 10 de março, mas “pesados os prós e contras, verificado o contexto internacional e sobretudo o número de hosted buyers que não teriam condições de vir a Fátima, pelo menos à luz das restrições, considerámos que esta era a melhor decisão porque estamos muito empenhados em realizar um encontro presencial”.
Depois de um ano em que os workshops tiveram uma versão “on-line”, a ACISO tem vários motivos para que os diversos operadores se encontrem presencialmente: “é o ano em que se preparam as operações para as Jornadas Mundiais da Juventude, é a 10ª edição dos Workshops, o turismo é uma indústria de contactos, de relacionamentos e estamos todos a precisar de fazer um grande evento presencial, com as características que tínhamos planeado e que o setor necessita”.
Até ao momento os Workshop Internacionais de Turismo Religioso já tinham recebido cerca de 250 inscrições, que transitam como válidas para junho. Cerca de 170 hosted buyers poderão vir a Portugal, alguns oriundos de mercados muito importantes para o destino Fátima, como os asiáticos, americanos e sul-americanos.
No entanto, será a primeira vez que não têm a possibilidade de aliar a participação nos Workshops à visita à BTL. A Feira de Turismo de Lisboa está marcada para 16 a 20 de março.
Mantêm-se, no entanto, os tours pelas diversas regiões de Portugal e muito especialmente, pela do Centro. No fundo, todos querem que estes operadores ofereçam aos seus turistas/clientes os melhores programas turísticos sobre Portugal, com Fátima no topo do cartaz.